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As mulheres têm mais doenças autoimunes do que os homens. A culpa pode ser da placenta

A hipótese da compensação da gravidez mostra que a evolução pode ter tido um papel importante no sistema imunológico das mulheres.

Há cerca de 65 milhões de aos, depois da época dos dinossauros, surgiu o primeiro mamífero do mundo. Pequeno e com uma cauda peluda, este animal muito parecido com um rato tinha também uma placenta, um órgão que cresce no corpo materno para alimentar o feto durante a gravidez.

Um dos mais intrigantes mistérios da medicina tem vindo a confundir os cientistas durante várias décadas: porque é que as mulheres têm mais doenças autoimunes do que os homens? A placenta pode responder a esta questão.

Segundo o Diário de Notícias, as mulheres representam 80% de todos os casos de doença autoimune nos EUA. Aliás, as mulheres são 16 vezes mais propensas do que os homens a contrair a síndrome de Sjögren – uma doença que afeta as glândulas que produzem lágrimas e saliva – e têm nove vezes mais probabilidades de ter tireoidite de Hashimoto. Por sua vez, o lúpus é oito vezes mais comum em mulheres do que em homens.

Em conjunto com a sua equipa da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, a bióloga Melissa Wilson pôs em cima da pesa a “hipótese da compensação da gravidez” para explicar este facto.

À semelhança de todos os mamíferos placentários, as mulheres evoluíram de tal for que poderiam estar grávidas durante grande parte da sua vida adulta. Aliás, antes de haver controlo da natalidade, este era o destino do sexo feminino. Nas sociedades caçadoras-recoletoras, por exemplo, as mulheres tinham, geralmente, oito a 12 filhos.

Para tornar isto possível, o corpo das mulheres desenvolveu-se de modo a conseguir lidar com tantas gravidezes. Quando a placenta se forma, o órgão envia sinais ao sistema imunológico da mãe para alterar a sua atividade, de forma a que o corpo não rejeito o órgão recém-chegado.

Esta alteração pode mesmo significar a suspensão de algumas funções do sistema imunitário durante um certo período, o que representa um risco para as mulheres e para os fetos, uma vez que ficam sensíveis a patógeno.

Em vez disso, explica Wilson, o sistema imunológico da mãe desenvolve capacidades ao longo da sua idade adulta para permanecer vigilante contra os germes, mesmo que algumas das suas partes estejam adormecidas durante a gravidez.

Contudo, em países como os Estados Unidos ou até mesmo Portugal, as mulheres têm menos filhos do que antigamente – menos de dois, em média. A bióloga argumenta que, sem aquele retrocesso mais ou menos constante das placentas durante a gravidez, o sistema imunológico pode ficar muito agressivo e acelerado. É assim que as doenças autoimunes se instalam.

Durante milhões de anos, “o sistema imunológico esperava estar exposto a uma placenta”, detalhou a cientista. Apesar de esta hipótese ter sido bem acolhida pela comunidade científica, a equipa vai continuar a trabalhar para a poder confirmar.

ZAP //

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