O antigo chefe do Serviço de Inteligência e Segurança Militar de Angola, general Zé Maria, está em prisão domiciliária, acusado de ter extraviado documentos com informações secretas sobre José Eduardo dos Santos. Para alguns angolanos é “um acto de força de João Lourenço”, enquanto outros acreditam que é uma mera “manobra de manipulação”.
O Supremo Tribunal Militar (STM) de Angola aplicou, nesta segunda-feira, a medida de prisão domiciliária ao ex-chefe do Serviço de Inteligência e Segurança Militar (SISM) do país, o general António José Maria.
A detenção domiciliária terá sido escolhida em detrimento da prisão preventiva devido a problemas de saúde do militar reformado que era um dos homens fortes da presidência de José Eduardo dos Santos, o antigo chefe de Estado de Angola.
O general Zé Maria, como é mais conhecido, está “indiciado pelo crime de extravio de documentos, aparelhos ou objectos que contenham informações de carácter militar e insubordinação”, como reporta o Jornal de Angola.
São “ilícitos previstos e puníveis” nos termos da “Lei dos Crimes Militares”, aponta a publicação, frisando que o general na reserva é suspeito de ter escondido “documentos do SISM com a finalidade de salvaguardar segredos do ex-Presidente da República“.
Está em causa uma pena de prisão que pode ir dos 2 aos 8 anos.
O general era chefe do SISM desde 2009, tendo sido exonerado do cargo pelo actual Presidente angolano, João Lourenço, em Novembro de 2017.
“A beber do próprio veneno”
O processo contra o general Zé Maria é encarado com algumas suspeitas na sociedade angolana. Há quem acredite que é apenas “mais um acto de demonstração de força de João Lourenço” perante os que “ainda o tentam desafiar”, como salienta a emissora internacional alemã DW.
Para o advogado e activista Arão Bula Tempo, a detenção do general é apenas “mais uma manobra de manipulação da opinião pública, tendo em conta os problemas sociais que o país atravessa”, conforme declarações à DW África.
Bula Tempo refere que João Lourenço “fez muitas promessas” numa altura em que Angola vive “situações drásticas ao nível económico, provocados pelo próprio partido no poder”. Assim, “para limpar a imagem do MPLA“, o Presidente angolano “está a tentar encontrar algumas personalidades para responderem em tribunal”, considera o advogado.
Também para o activista Adão Ramos a prisão do general “não é para se levar a sério“. “Essas pessoas detidas são classificadas arguidas, e depois são-lhes retiradas as medidas de coacção e não acontece mais nada”, sustenta em declarações à DW África.
Adão Ramos acredita ainda que a prisão do general “visa consolidar o poder do Presidente da República” para demonstrar a “quem ainda faz alguma resistência à sua liderança” que ele “tem poder suficiente para fazer o que também fez o ex-Presidente da República, que é punir, prender, enfim, fazer outras coisas para quem representa algum incómodo”.
Já o activista Benedito Jeremias (também conhecido por Dito Dali), um dos que integrou o “grupo dos 17” que foi detido em 2015, defende que o general está “a beber do próprio veneno”.
A DW África salienta que o general é visto como o “mentor” da prisão dos 17 activistas angolanos e Dito Dali considera, à conversa com a publicação, que o militar na reserva “é um especialista em forjar crimes, em manipular e fazer chantagens ao ex-Presidente, José Eduardo dos Santos, com a finalidade de garantir o seu posto”.
“Inventou que o general Miala estava a preparar um golpe de Estado contra José Eduardo dos Santos. O general Miala foi condenado, e até hoje não se provou o tal golpe de Estado que ele havia montado”, atira Dito Dali.
Para o activista, o general “não terá como sair ileso deste processo, caso não haja uma manipulação para distrair a opinião pública”.