Uma descoberta nos túmulos do cemitério Jirzankal, no oeste da China, mostra que os povos que viviam nessa zona montanhosa já queimavam canábis com elevados níveis de THC.
Uma equipa de arqueólogos encontrou pequenos artefactos de madeira e pedras carbonizadas, em túmulos do cemitério Jirzankal, na China, que contêm a mais antiga evidência de canábis fumada já encontrada, avança o The Guardian.
Os cientistas acreditam que as pedras eram aquecidas no fogo, antes de serem colocadas dentro dos artefactos e cobertas com esta substância, durante as cerimónias fúnebres ocorridas no cemitério, situado nas montanhas Pamir, há cerca de 2.500 anos. Com a ajuda de música, o fumo seria inalado pelos presentes numa espécie de ritual.
“A maioria dos braseiros contém biomarcadores de canábis e um deles está extremamente queimado, sugerindo que estes artefactos fossem usados durante rituais fúnebres, possivelmente para comunicar com a Natureza, espíritos ou pessoas já falecidas”, explica Yimin Yang, investigador na Universidade da Academia das Ciências da China.
De acordo com o jornal britânico, já tinham sido encontrados vestígios de canábis noutros locais arqueológicos da China central, porém, esta última descoberta aponta para o uso de uma variedade da planta com altos níveis de tetra-hidrocanabinol (THC) – a principal substância psicoativa desta droga – e para o facto de ter sido inalada em vez de ingerida.
“Há um longo debate sobre as origens do consumo de canábis e há muitas especulações da sua utilização em civilizações antigas”, afirma Robert Spengler, do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana, na Alemanha. “Este estudo apresenta a mais clara prova inequívoca não só para a produção química elevada na planta mas também para o ato de a queimar como uma droga”, acrescenta.
Mais especificamente, os cientistas encontraram canabinol, substância produzida quando a THC é oxidada, e acreditam que as plantas foram selecionadas por terem elevadas concentrações deste elemento. Se foram cultivadas de forma propositada, ou se foram encontradas e colhidas num ambiente selvagem, isso continua a ser uma incerteza.
As entradas para os túmulos, alguns dos quais possuem vários corpos, são marcadas por montes cercados por círculos de pedra. Segundo os cientistas, cujo estudo foi publicado esta quarta-feira na revista científica Science Advances, os braseiros de madeira foram encontrados nos túmulos da chamada “elite”.
Não se sabe muita coisa sobre as origens de fumar esta droga, para além do que se pode ler nos registos escritos pelo antigo geógrafo e historiador grego Heródoto (século V a.C.). E, embora atualmente seja uma zona remota, a região montanhosa de Pamir pode ter estado junto a uma movimentada rota comercial da antiga Rota da Seda.
Se fumar canábis foi uma das tradições lá originadas, ou nas suas proximidades, então esta rota comercial pode ter ajudado a espalhar esta droga da China central para todo o mundo.