Uma trabalhadora da Iveco, fábrica de camiões em Madrid, suicidou-se depois de um vídeo sexual seu ter sido partilhado num grupo do WhatsApp por colegas de trabalho. Agora, os funcionários da empresa podem vir a ser acusados pela divulgação não autorizada das imagens.
Verónica, de 32 anos, pôs termo à vida no passado sábado, não resistindo à pressão de ter visto a sua intimidade exposta na fábrica onde trabalhava. Há mais de um mês que um vídeo sexual que ela tinha gravado para o ex-namorado circulava entre alguns colegas de trabalho, partilhado num grupo do WhatsApp.
Neste sábado, a mulher, mãe de dois filhos, de 9 meses e 4 anos, enforcou-se em Alcalá de Henares, nos arredores de Madrid, depois de a cunhada, que também trabalhava na fábrica, ter mostrado o vídeo ao seu marido.
A gravação feita pela própria Verónica terá sido enviada por esta ao ex-namorado, há cinco anos, e só ela é que surgia nas imagens.
As primeiras teorias apontam que o ex-namorado, também funcionário da Iveco, pode ter divulgado o vídeo depois de eventualmente ter sido rejeitado por Verónica, aquando de uma possível tentativa de reatar a relação.
O ex-namorado já se entregou às autoridades para ser ouvido e identificado. O homem alega que não foi ele a divulgar o vídeo, como constata o El País, e depois de ter prestado declarações, saiu em liberdade sem qualquer acusação. As autoridades não encontraram “no seu testemunho elementos suficientes” para o acusar, como frisa o jornal espanhol.
O vídeo terá sido visto por, pelo menos, 200 trabalhadores dos 2500 da Iveco, segundo apurou o El Mundo. Mas terá também saído dos horizontes da própria fábrica, tendo sido partilhado com pessoas externas à Iveco.
O El País acrescenta que Verónica sofreu, ao longo de “muitas” semanas, uma situação de “pressão” e de “angústia” motivada pelo assédio e pela humilhação dos colegas. Havia “comentários, piadas, olhares, risadas, cochichos e silêncios”, frisa o El País. Ela acabou por não aguentar a pressão e suicidou-se.
Colegas arriscam pena de prisão
A investigação policial passa agora por perceber quem divulgou o vídeo e quem é que ajudou a espalhá-lo pelo WhatsApp, bem como analisar como é que a empresa agiu para proteger a trabalhadora.
O Tribunal de Instrução número 5 de Alcalá de Henares já abriu um inquérito por um eventual crime de revelação de segredos.
A este caso pode-se aplicar também a alteração legislativa que foi promovida pela divulgação de um vídeo íntimo da ex-conselheira do PSOE, Olvido Hormigos – trata-se de um vídeo que ela enviou ao então amante que o terá disseminado na Internet sem a sua autorização. A justiça decidiu que não havia lugar a crime.
Foi então introduzida uma nova cláusula na legislação que pune a “divulgação não autorizada de imagens ou gravações íntimas, inclusive se foram obtidas com o consentimento da vítima”, que prevê uma pena de prisão de 3 meses a 1 ano.
Poderão também estar em causa eventuais crimes contra a integridade moral da vítima ou assédio e extorsão com a ameaça de difusão das imagens.
Empresa acusada de negligência
A central sindical que representa os trabalhadores da Iveco já anunciou que vai apresentar uma queixa contra a Iveco junto da Inspecção do Trabalho, alegando que a empresa não accionou os mecanismos legais para proteger a trabalhadora e considerando, desta forma, que está em causa um acidente em contexto laboral.
Uma representante sindical citada pela imprensa espanhola refere que chegou a acompanhar Verónica a uma reunião com a direcção da Iveco, garantindo que esta alegou que estava em causa “uma questão pessoal e não laboral” e que, portanto, nada fez para proteger a funcionária.
A Iveco assegura, contudo, que agiu e que até propôs a Verónica uma mudança de posto e de horário que ela terá recusado, como sublinha o El Mundo.
… é a PORCA democracia europeia.