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Descobertas 27 supostas campas perto de reformatório norte-americano com histórico de abusos

Mais de duas dúzias de sepulturas não identificadas podem ter sido descobertas nos terrenos de um antigo reformatório para rapazes, na Florida, EUA, que foi encerrado em 2011 e ficou conhecido pelos espancamentos, abusos e até mortes.

A descoberta foi feita na sequência de trabalhos de limpeza por causa do furacão Michael, que afetou o Estado da Florida em outubro do ano passado, numa zona de densa floresta de pinheiros na área do antigo reformatório, em funcionamento durante 111 anos – entre 01 de janeiro de 1900 e 30 de junho de 2011, noticiou a agência Lusa.

A notícia foi avançada pelo jornal local Tampa Bay Times, segundo o qual a empresa que estava a fazer operações de limpeza na antiga propriedade da Escola Dozier para Rapazes, em Marianna, a cerca de 97 quilómetros de Tallahassee, na zona norte da Florida, descobriu 27 “anomalias” no terreno que podem ser sepulturas, a cerca de 150 metros do cemitério do reformatório.

“A descoberta é chocante porque os antropólogos forenses já descobriram mais sepulturas na propriedade da escola do que aquelas que o Estado conhecia”, referiu o jornal.

Tendo por base sobretudo registos históricos, o Departamento da Polícia da Florida concluiu, em 2009, que havia 31 pessoas sepultadas no cemitério, mas antropólogos da Universidade da Florida do Sul encontraram mais 24 campas, elevando o total para 55 sepulturas, e desenterraram os restos mortais de 51 pessoas.

A maioria eram rapazes que morreram sob custódia do Estado e cujos corpos foram devolvidos às respetivas famílias ou enterrados em Tallahassee.

A Escola Dozier para Rapazes tinha uma área de cerca de 566 hectares e foi fechada em 2011, na sequência de forte pressão pública, depois de o Tampa Bay Times e outros jornais locais terem denunciado os abusos e a negligência generalizada de que eram vítimas as crianças que viviam na instituição, além de várias mortes suspeitas.

As denúncias foram feitas com base nos relatos de um grupo de homens, que se autointitulava “Os rapazes da Casa Branca”, como referência ao edifício branco onde eram espancados pelos guardas com um cinto de couro.

Muitos destes homens, que estiveram presos no reformatório nos anos 1950 e 1960, lembram-se de ter visto vários cemitérios nos terrenos da instituição. Um deles, Jerry Cooper, de 74 anos, citado pelo jornal, recordou uma noite, tinha então 16 anos, em que levou 135 chicotadas como punição.

Bryant Middleton, que foi enviado para a escola em 1959, disse que o grupo de homens tem tentado desde há muito tempo dizer ao Estado da Florida que há mais corpos enterrados e adiantou ter em sua posse uma lista de 130 rapazes que morreram na escola ou desapareceram sem que se saiba onde estão sepultados.

A empresa de limpeza do terreno enviou um relatório ao Departamento de Proteção Ambiental a 26 de março, onde é referido que, através de um radar de penetração no solo – em que foi inspecionada uma área com cerca de 7.200 metros quadrados -, foram encontradas “27 anomalias” consistentes com possíveis sepulturas não identificadas.

Este relatório, divulgado pelo Tampa Bay Times, revelou que as supostas sepulturas não têm nenhum padrão, algo que “é expectável num cemitério clandestino ou informal, em que as campas são escavadas ao acaso e deixadas sem identificação”.

O jornal revelou que a primeira referência a um cemitério nas instalações data de 1914, mais de uma década depois de a escola ter começado a funcionar, mas os registos históricos demonstram que os primeiros anos foram especialmente brutais para as crianças que lá viviam.

Por exemplo, em 1903, uma investigação demonstrou que havia crianças, algumas com seis anos, “presas com ferros, tal como criminosos comuns. E em 1911, outra comissão reportou que as crianças eram “por vezes castigadas desnecessariamente e brutalmente, sendo que o instrumento de punição era uma tira de couro presa a um cabo de madeira”.

Em dezembro, foi decidido entregar a propriedade ao Condado de Jackson, que planeia usar os terrenos para construir um centro de produção e distribuição e uma instituição para pessoas com autismo.

TP, ZAP //

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