Muitas das organizações não governamentais presentes na Beira, em Moçambique, estão a ter dificuldades em entregar a ajuda humanitária. As ONGs dizem que se prende com questões da burocracia moçambicana.
A situação na província de Sofala não dá sinais de melhorar e a ajuda humanitária continua chegar à região. No entanto, segundo algumas ONGs, esta ajuda não está a chegar de maneira eficiente devido a uma “teia burocrática” do Governo moçambicano.
Certas organizações humanitárias queixam-se da resposta demorada do Governo, que está a atrasar o seu apoio aos afetados pelo ciclone Idai. “Nós estamos a trabalhar à revelia da organização interna”, disse Marco Martins, representante das ONGs Estímulo e Take C’air na Beira, em declarações ao Observador.
Marco Martins está presente em Moçambique com um grupo de bombeiros portugueses e queixa-se da burocracia do país. “Existem muitos recursos disponíveis, mas não estão a conseguir ser conjugados com as necessidades. Há uma incapacidade de organização que é relevante”, alertou Matias.
Também Fernando Nobre, presidente da AMI referiu que “o objetivo é prestar o máximo de ajuda humanitária possível às populações afetadas na província de Sofala”. A equipa da Assistência Médica Internacional fala em “atrasos” e frustrações” das organizações que estão à espera de resposta para poderem trabalhar.
“Podemos dizer que a coordenação está um bocado pesada e que isso está a atrasar a entrega da ajuda humanitária”, corroborou Luís Nobre, administrador da AMI. Nobre realça que há equipas à espera para avançar no terreno e que “estão paradas à espera” de autorização.
Marco Martins destaca que há um risco que alarma as organizações. “Quando entregamos ao Governo os mantimentos, não sabemos onde vão ser entregues”. Por essa mesma razão, assume que as suas organizações no terreno vão tentar que alguns dos mantimentos da Cruz Vermelha lhes sejam direcionados.
Moçambique não reconhece o problema
Apesar dos relatos de vários ONGs, o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) não reconhece o problema, dizendo que se trata de uma fase já ultrapassada pelo Governo.
António Beleza, diretor adjunto do Centro Nacional operativo de Emergência do INGC defende que “são mais de 500 organizações e que é difícil o Governo moçambicano falar com todas, quando há pessoas que precisam de ser assistidas”.
Esta “teia burocrática” leva a que algumas ONGs trabalhem de forma oficiosa. “Não conseguimos entrar na organização central, porque há uma incapacidade de gerir leis que estão no terreno e que não conseguem responder às necessidades”, diz Marco Matias.
O presidente da AMI afirma que a maior dificuldade é “ao nível da organização da distribuição dos locais de intervenção das equipas humanitárias”. O Governo moçambicano não consegue supervisionar eficientemente o trabalho das organizações, o que leva a que o seu trabalho não tenha os frutos desejados.
Ainda assim, António Beleza salvaguarda que “é preciso fazer uma resposta sincronizada entre o Governo e as ONGs” e que as organizações “devem ser integradas neste mecanismo” para que o apoio humanitário seja feito de uma forma coerente e equilibrada.
Na província de Sofala são cerca de 790 mil pessoas que continuam a precisar de assistência. Situação que se agrava, após o Governo moçambicano ter confirmado um surto de cólera na região da Beira.