Subitamente, um adolescente dos EUA começou a experienciar pensamentos psicóticos intensos: alucinações, delírios, pensamentos suicidas e homicidas. Sem sinais prévios de doença mental, tudo apontava para esquizofrenia.
Porém, quando todos os tratamentos normais falharam no rapaz de 14 anos, os médicos procuraram noutro lugar e encontraram um problema bem diferente.
O verdadeiro culpado pelo declínio da saúde mental do adolescente foi uma bactéria associada ao que é conhecido como “doença do arranhão do gato”. O paciente está bem, mas o caso deixou os investigadores curiosos sobre as ligações entre infeção e doença neurológica.
A Bartonella henselae é uma bactéria que costuma estar presente no sangue de gatos, especialmente crias. Transmitido através de uma mordida ou arranhão, pode produzir inchaço e lesões localizadas e, ocasionalmente, problemas mais sérios no coração e no sistema nervoso. Mas uma coisa pela qual não é conhecida é por causar esquizofrenia.
Quando o adolescente, descrito como sociável e feliz, desenvolveu de repente um leque de sintomas em 2015 – incluindo ameaças de suicídio – ninguém pensou numa infeção.
Investigadores da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos EUA, sugerem que este poderia ser um exemplo claro de um vínculo que anteriormente ignorado. “Este caso é interessante por uma série de razões”, referiu Ed Breitschwerdt.
“Além de sugerir que a própria infeção por Bartonella poderia contribuir para distúrbios neuropsiquiátricos progressivos, como a esquizofrenia, levanta a questão de quantas vezes a infeção pode ter estado envolvida com distúrbios psiquiátricos em geral”, disse, de acordo com o estudo publicado na revista Journal of Central Nervous System Disease.
O resultado do jovem foi feliz no final, mas demorou algum tempo para chegar lá. Os tratamentos iniciais não foram totalmente ineficazes. Uma semana a tomar aripiprazol no hospital ajudou a reduzir a as ideias suicidas e homicidas, mas ainda o deixou a experienciar psicose.
Nas semanas seguintes, tornou-se cada vez mais disfuncional, com explosões de raiva e medos irracionais, tornando a vida normal impossível – até suspeitava que o gato da família estava disposto a matá-lo.
Só depois de dez meses é que que os pais se depararam com a primeira pista de que outra coisa estava a acontecer. Eram pouco mais do que linhas vermelhas na sua pele – erupções tomadas como os tipos de estrias que os adolescentes têm quando crescem.
No início de 2017, um médico avaliou as lesões e ligou os pontos, sugerindo que as bactérias transmitidas por gatos poderiam estar por trás da psicose. Não é desconhecido que neurobartonellosis – o impacto neurológico de uma infecção por Bartonella – possa influenciar o comportamento, causando episódios de confusão e sintomas neurológicos.
Há evidências crescentes que sugerem que o parasita protozoário Toxoplasma gondii, também associado aos pequenos felinos, está ligado à esquizofrenia. Felizmente, os sintomas de psicose da criança diminuíram após fazer quimioterapia antimicrobiana, fazendo com que regressasse ao seu estado anterior de saúde física e mental.
O caso oferece uma peça intrigante de evidência que apoia a visão emergente de que, em pelo menos uma proporção de casos, sintomas de comprometimento neurológico podem ter as suas raízes numa infecção. Não só a esquizofrenia, mas também o Alzheimer e até a doença de Parkinson, podem ter uma relação complicada com os micróbios.
“Além deste caso, há muito movimento na tentativa de entender o papel potencial de infeções virais e bacterianas nestas doenças clinicamente complexas. Este caso dá-nos a prova de que pode haver uma conexão e oferece uma oportunidade para futuras investigações”, disse Breitschwerdt.
ZAP // Science Alert
Não distinguem uma PSICOSE SINTOMÁTICA de uma ESQUIZOFRENIA?
Nem sequer estudasram em condições o tratado (americano) de Kaplan & Sadock’s!