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Os rins protegem-nos da malária

Gates Foundation / Flickr

Cientistas do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Oeiras, encontraram um mecanismo que nos protege da malária… nos rins de ratinhos.

Através de experiências com ratinhos, cientistas do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Oeiras, encontraram, pela primeira vez, um mecanismo nos rins que está envolvido na proteção contra a malária. Esta descoberta inesperada, que ajuda a explicar o desenvolvimento de problemas renais em pessoas que sofrem de malária grave, foi publicada na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Há muitos anos que os cientistas se interessam por um fenómeno chamado “tolerância à doença”, conceito que surgiu há 150 anos no estudo das plantas. É o caso de Miguel Soares, cientista do IGC que coordenou a pesquisa.

Segundo o Público, nos últimos anos os cientistas perceberam que este mecanismo de defesa também existe em animais. A equipa de Miguel Soares tem estudado o mecanismo no choque sético ou na malária.

Apesar de haver todos os anos cerca de 450 mil mortes, mais de 98% das pessoas infetadas com malária sobrevivem, em parte devido à tolerância à doença, revela o estudo.

“Apercebemo-nos de que há mecanismos de defesa contra a malária que não têm nada a ver com a capacidade de eliminar o parasita [Plasmodium], mas estão relacionados com a indução destes mecanismos na tolerância à doença”, explica o investigador. No fundo, há mecanismos que fazem com que diferentes órgãos de um animal consigam funcionar quando já está infetado com malária.

Além deste passo, a equipa de Miguel Soares descobriu que o mecanismo que cria esta proteção contra a malária depende da enzima heme-oxigenase-1 – proteína produzida por um certo gene nos tecidos do organismo quando são expostos a stress oxidativo e que tem a capacidade de degradar os grupos heme (que contém átomos de ferro), que existem na hemoglobina.

De acordo com o diário, estes grupos são, normalmente, inofensivos e transportadores de oxigénio na hemoglobina, mas quando são libertados durante a infeção do Plasmodium são tóxicos e causam sintomas graves de malária.

Na prática, quando o parasita da malária consegue entrar na corrente sanguínea, invade os glóbulos vermelhos e multiplica-se. Ao rebentar com os glóbulos vermelhos, expulsa a hemoglobina para a corrente sanguínea.

Aí, a hemoglobina liberta os grupos heme. Mas a heme-oxigenase-1 vai agarrar nesses grupos e extrair o ferro, criando assim uma proteção contra a toxicidade desses grupos, explica.

“Descobrimos que este é um mecanismo de desintoxicação. Se este mecanismo não existir, qualquer pessoa que tem malária morre”, explica Miguel Soares. Isso acontece “porque se desenvolve uma disfunção renal muito grave, que é um dos parâmetros clínicos principais da malária severa”.

“Não se morre porque o parasita piora ou melhora, mas porque se perde tolerância à doença. Este mecanismo de base não exerce qualquer efeito no parasita, mas é absolutamente crítico para que o indivíduo que esteja infetado com malária possa sobreviver”, remata o cientista.

ZAP //

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