Oito dos 193 países reconhecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) concentra o maior número de pessoas que necessitam de alimentos urgentemente, 56 milhões. Em cinco desses, a fome crónica continua a agravar-se devido aos conflitos armados.
De acordo com organizações internacionais citadas pela agência espanhola Efe, no Iémen, no Sudão do Sul, no Afeganistão, na República Democrática do Congo (RDC) e na República Centro-Africana, a insegurança alimentar aumentou novamente no final de 2018, sinal que a violência e a fome são “muito persistentes”.
Esta informação foi divulgada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA), no seu último relatório aos membros do Conselho de Segurança da ONU.
Segundo informou o Observador, no domingo, no mapa das maiores crises humanitárias do mundo, encontram-se a Somália, a Síria e a bacia do Lago Chade, especialmente no nordeste da Nigéria, embora ultimamente a sua situação alimentar tenha melhorado, em linha com um aumento da segurança.
O especialista da FAO Luca Russo observa uma “mudança dramática” na República Democrática do Congo, onde a prevalência da fome disparou 11% num ano devido à intensificação dos confrontos no Leste e à crise de pessoas deslocadas no centro do país.
Cerca de 13 milhões de pessoas precisam de ajuda de emergência no país, um número apenas superado pelo Iémen, com quase 16 milhões de pessoas, mais da metade da população, numa situação de crise alimentar.
“Há muitos iemenitas que estão realmente a morrer, mas não são o suficiente para se declarar fome”, afirmou à Efe o especialista, notando que a operação humanitária no país tem servido como contenção, embora “seja muito difícil” chegar a certas zonas onde as pessoas não conseguem alimentar-se.
Segundo a ONU, espera-se que mais pessoas fiquem em risco de terem fome se a ajuda for interrompida, a guerra se intensificar e portos como o Al Hudeida, o principal ponto de entrada para ajuda e importação de alimentos, forem fechados.
Para o assessor da Rede de Sistemas de Alerta precoce para a Fome, Peter Thomas, o único desses países em conflito onde o clima está a agravar a seca é o Afeganistão, que enfrenta um complicado período de escassez depois de uma das piores épocas de chuva em quase dez anos. Mais de 10 milhões de afegãos sofrerão um défice alimentar crítico nas áreas rurais se não receberem ajuda urgente.
Enquanto isso, continuou Peter Thomas, no Sudão do Sul, “o conflito espalhou-se à maior parte do território, mantêm-se altos níveis de deslocações e há muitas famílias com acesso restrito ao mercado” e sem poder cultivar os campos.
Na República Centro-Africana a fome também aumentou, com a situação a atingir quase dois milhões de pessoas, a maioria deslocada em comunidades de acolhimento.
A República Centro-Africana, o Sudão do Sul e o Iémen estão na lista de dez países e regiões em que o centro de análise considera estarem em risco de uma escalada de violência e em que a União Europeia poderia promover iniciativas para promover a paz, escreveu a Efe.
Atualmente, há operações humanitárias massivas no mundo que abrangem milhões de pessoas mensalmente, mas, como disse Peter Thomas, em certos casos, “as necessidades aumentam quando a assistência não consegue chegar a quem mais necessita”.
Esta situação deve-se, em parte, a ataques contra os que fornecem a ajuda. No ano passado, registaram-se 284 vítimas, das quais 104 perderam as suas vidas, segundo a base de dados sobre a segurança dos trabalhadores humanitários.