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O segredo para viver cem anos está nas suas mãos (e não nos genes)

Todos conhecemos famílias nonagenárias, que parecem indestrutíveis. Até agora, pensava-se que a diferença entre os que vivem muito e pouco dependia entre 15% e 30% da genética. Porém, um novo estudo manda por terra esta ideia.

O trabalho, publicado na revista Genetics, foi conduzido por um grupo de investigadores da Califórnia, nos EUA, que comparou 54 milhões de árvores genealógicas do Ancestry, um banco de dados que conecta pessoas de todo o mundo com os seus ancestrais.

De acordo com os resultados, os genes influenciam, mas muito menos do que se pensava anteriormente – apenas 7%.

As conclusões são relativamente surpreendentes, embora a ciência já soubesse que o ADN pesava menos que o estilo de vida. “A ideia geral que tínhamos até agora era que, nas sete ou oito primeiras décadas de vida, o estilo de vida é mais importante que a genética“, disse Miguel Pita, professor de Genética no Departamento de Biologia da Universidade Autónoma de Madrid.

“Digamos que o estilo de vida se sobrepõe ao efeito da genética. Se se conseguir manter uma dieta saudável, com pouco álcool, pouco fumo e muito exercício, viverá muito mais do que se não fizer isto, independentemente da genética que tenha”, explicou o especialista.

É a partir da sétima e oitava décadas que a genética intervém, acrescentou: “Todas aquelas pessoas que são nonagenários e centenárias, além de terem tido um estilo de vida adequado, tendem a possuir uma determinada genética“.

Pita dá dois exemplos: “A genética é importante porque, se se tiver uma propensão muito grande ao cancro, obviamente a duração da sua vida será afetada”. No entanto, faz uma comparação com o talento para a música. “Todos nos podemos esforçar e tocar guitarra mais ou menos bem, mas, para ser um génio, é preciso ter uma certa genética”, disse.

A novidade deste estudo está na maneira como os dados foram analisados. “A diferença entre viver muito ou viver pouco por causa da influência da genética não é muita. É maior a influência ambiental.”

Este trabalho demonstra que os estudos anteriores, que apontavam que os genes tinham 30% da culpa por alguém viver pouco ou muito, não foram muito bem feitos: “Baseavam-se numa combinação seletiva, de modo que, quando parecia que duas pessoas tinham a mesma genética, o que tinham, na verdade, era o mesmo ambiente”.

A importância do estrato social

“Os cálculos eram feitos com duas pessoas que tinham a mesma genética porque eram irmãs: via-se que viviam mais que outras duas pessoas que também eram irmãs e tinham outra genética”, disse Pita.

Em vez disso, “este trabalho não analisa só a genética do primeiro par de irmãos, mas também estuda o que acontece com os cunhados. Assim, comprova que os dois irmãos e o cunhado do primeiro grupo vivem mais que os dois irmãos e o cunhado do segundo grupo “, continua o especialista. A conclusão tirada foi que não é genética, porque os cunhados não partilham a genética.

“O que se vê é que pessoas com características semelhantes, a mesma origem social e até traços físicos semelhantes tendem a combinar entre si, de modo que não são os genes que as faz viver mais tempo; é que estão a agrupar-se entre si”, afirma o especialista. Ou seja, pessoas do mesmo extrato social tendem a se casar com pessoas da mesma condição e é isto que as faz viver mais do que outras.

Isso não significa que, com melhorias na genética, não iremos viver mais. “A genética é muito importante”, diz Miguel Pita. “Se identificarmos quais são os genes que causam o aumento da mortalidade e administrarmos medicamentos para os combater, a longevidade aumentará muito. Embora pareça que a genética não influencia muito, pode, sim, aumentar muito a expetativa de vida”.

Parece contraditório, mas não é. “A genética pode fazer com que todos nós vivamos mais. Vai sempre haver um ambiente no qual a genética influencia mais do que noutro, mas o controlo dos genes aumentará a longevidade”, conclui o especialista.

ZAP // El País

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