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Erika Marena. De delegada na operação Lava-Jato ao governo de Bolsonaro

Erika Marena, delegada que nos bastidores deu à luz, batizou e ajudou a crescer a maior operação policial anti-corrupção da história, a Lava-Jato, vai para o governo de Bolsonaro.

“Como vimos na Lava-Jato e em outros casos, é muito comum a lavagem de dinheiro no estrangeiro. Ela é uma das pessoas mais capacitadas do Brasil para atuar nessa área de investigação”, disse Moro, futuro ministro da Justiça, ao apresentar Marena, a nova chefe do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional.

Além de Marena e Moro, recorda o DN, também Maurício Valeixo transita da operação para o governo Bolsonaro como novo diretor-geral da polícia federal. Podem ainda juntar-se a eles, o delegado Márcio Anselmo e outros nomes da Lava-Jato.

Nascida em 1975, na cidade de Apucarana, a 370 quilómetros de Curitiba, Erika Marena foi professora da disciplina “Lavagem de Dinheiro” na Academia Nacional de Polícia, procuradora do Banco Central e técnica na justiça eleitoral antes de chegar à polícia federal em 2003. Passou pela delegacia de crimes financeiros em São Paulo para coordenar depois o caso conhecido como Escândalo do Banestado, em torno de um banco público local.

Este caso é considerado o embrião da Lava-Jato por ter sido lá que Moro e Marena conheceram o intermediário corrupto Alberto Youssef, que se tornaria 11 anos depois o primeiro delator do Escândalo do Petrolão.

A participação de Marena na operação mais mediática da história do Brasil levou-a, entretanto, a uma popularidade extraordinária entre os seus pares, ao ponto de em março de 2016 a Associação Nacional de Delegados a ter proposto, com um recorde de 1065 votos, para diretora-geral da polícia federal. Cabia ao presidente Michel Temer aceitar a sugestão dos delegados. Recusou, em favor de Fernando Segovia, demitido meses depois.

Nesse mesmo ano, a delegada foi transferida para Santa Catarina, onde viria a atuar numa operação, a Ouvidos Moucos, que mancharia a sua até então imaculada reputação. Deflagrada para combater supostos desvios de dinheiro em programas de ensino à distância da Universidade Federal de Santa Catarina, a operação resultou na prisão e no afastamento de Luiz Cancellier, o reitor do estabelecimento, por obstrução de justiça.

Cancellier, que não tinha antecedentes criminais, foi detido numa ação policial envolvendo 115 agentes. Libertado, entretanto, através de habeas corpus mas proibido de entrar na universidade que gerira, o que considerava uma injustiça e uma humilhação, suicidou-se ao saltar do vão central de um centro comercial em Florianópolis.

Da comunidade académica chegaram as primeiras críticas. Seguiu-se censura pública de Gilmar Mendes, integrante do Supremo Tribunal Federal para quem “o sucedido serve de alerta para as consequências de eventual abuso de poder por parte das autoridades”.

O senador Roberto Requião prometeu batizar um projeto sobre abuso de poder de “Lei Cancellier”. A família de Cancellier apresentou queixa-crime contra a delegada, entretanto transferida para o Sergipe, “pelos abusos e excessos da Ouvidos Moucos”.

“O que aconteceu em Florianópolis foi algo muito trágico, toda a minha solidariedade aos familiares do reitor, mas tratou-se de um infortúnio no âmbito da investigação, a delegada não tem responsabilidade nisso, ela tem a minha plena confiança”, disse, a propósito da Ouvidos Moucos, o futuro ministro Moro no dia da apresentação de Erika Marena.

ZAP //

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