/

Austrália pede desculpa às milhares de vítimas de abusos sexuais

Lukas Coch / EPA

O primeiro-ministro australiano abraça uma vítima de abusos sexuais

A Austrália pediu nesta segunda-feira oficialmente perdão por não ter “escutado e acreditado” nos milhares de vítimas de abusos sexuais perpetrados durante décadas dentro das instituições do país.

“De novo e de novo, hoje pedimos desculpa”, disse o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, num discurso emotivo perante o Parlamento, em Camberra, onde se encontravam centenas de vitimas destes abusos.

Scott Morrison observou que “ocorreram crimes de abuso sexual em escolas, igrejas, grupos de jovens, orfanatos, abrigos, clubes desportivos, instituições de caridade e casas de família” e que isso aconteceu “dia após dia, semana após semana, mês após mês, década após década”.

“Pedimos desculpas por toda a infância roubada, por toda a vida perdida, pela traição à confiança, pelo abuso de poder (…), por todo o crime não investigado, por todo criminoso com impunidade”, enfatizou o político conservador, insistindo que esse esquecimento “será sempre a nossa vergonha”.

Este pedido de desculpas surge depois de uma comissão do governo, criada em 2012 para investigar a resposta das instituições aos abusos contra menores, ter divulgado um relatório em dezembro de 2017 com mais de 400 recomendações, das quais 122 foram para o governo.

A comissão ouviu cerca de 17.000 vítimas, das quais cerca de 8.000 foram convocadas para sessões particulares para explicar os seus casos desde 1920.

Uma das vítimas mais velhas é Katie, que foi colocada aos seis anos aos cuidados das freiras de São José, um orfanato no norte de Sydney, onde foi maltratada pelas freiras e violada por um dos seus companheiros.

“Quando se trata de abuso sexual, não acho que muitas pessoas percebam que é uma sentença de prisão perpétua”, disse a mulher de 96 anos numa entrevista transmitida pela rede local ABC, na qual reclamou que ainda não tem notícias do plano de compensação nacional que prevê um máximo de 150.000 dólares australianos (cerda de 92.694 euros) por vítima.

O pedido de desculpas oficial perante esta “tragédia nacional”, como descreveu a comissão investigadora, não satisfaz muitas vítimas, como as da cidade de Ballarat, no sul da Austrália, que era o centro de operações de uma rede de padres pedófilos.

Ballarat é também o local de nascimento e onde iniciou a sua carreira eclesiástica o chefe de finanças do Vaticano, o cardeal George Pell, que tem um processo na Austrália por alegado abuso sexual perpetrado no passado e cujos detalhes não podem ser revelados por restrições judiciais.

A comissão, que recebeu denúncias de 4.500 pessoas por supostos abusos de 1.880 religiosos e padres entre 1980 e 2015, recomendou à Igreja Católica que levantasse o segredo da confissão em casos de pedofilia e eliminasse o celibato, como medidas para combater os abusos de menores.

O pedido de perdão da Austrália chega num momento em que a Igreja Católica está sob pressão com diversos casos em vários países, como o Chile.

A Austrália também anunciou a criação de um museu para relembrar e refletir sobre a dor e o sofrimento das vítimas, além de publicar um relatório anual durante os próximos cinco anos sobre o progresso alcançado em relação às 104 recomendações que o governo se comprometeu a implementar.

Antes da Austrália, o Estado irlandês pediu desculpas em 2009, enquanto o papa Francisco pediu em 2014 “perdão por pecados de omissão” cometidos por líderes da igreja diante desses crimes.

// Lusa

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.