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Dois diretores do São João demitiram-se. Este ano já são mais de uma centena

José Coelho / Lusa

Hospital de São João, Porto

Dois diretores do Centro Hospitalar de São João, no Porto, pediram a demissão dos cargos que ocupavam “por falta de recursos”. Dirigente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) diz que os pedidos de demissão “já ultrapassam uma centena” este ano.

Dois diretores do Centro Hospitalar de São João, do Porto, pediram a demissão dos cargos que ocupavam, confirmou à Lusa, fonte do corpo clínico.

Segundo a mesma fonte, o diretor do Serviço de Cirurgia Plástica, Álvaro Silva, e o diretor do Serviço de Anestesiologia, João Viterbo, apresentaram a sua demissão há mais de uma semana, por considerarem já não ter condições para gerir os respetivos serviços. No caso da anestesiologia, haverá ainda outras razões que terão conduzido a este desfecho.

João Viterbo foi nomeado diretor do Serviço de Anestesiologia, apesar de não ser chefe de serviço na altura em que foi designado e de, alegadamente, existirem outros especialistas mais qualificados. Uma situação que, segundo fonte do corpo clínico, é uma prática generalizada nos hospitais.

Contactado pela Lusa, o conselho de administração do hospital disse não comentar o caso. Ao Público, os dois diretores de serviço recusaram-se também a revelar as razões pelas quais se demitiram.

De acordo com o diário, Álvaro Silva foi o primeiro a bater com a porta, tendo-se demitido devido à falta de condições para continuar a gerir o serviço e para aplicar a rede de referenciação hospitalar naquela unidade. João Viterbo seguiu os mesmo passos, tendo-se demitido na semana passada. A decisão foi comunicada aos médicos numa reunião que, segundo o jornal, durou apenas um minuto.

Fontes hospitalares confirmaram ao Público que a situação no Serviço de Anestesiologia é há muito tempo considerada “insustentável”, dando origem a “muitas desavenças” e “discussões internas”.

Por trás da demissão de João Viterbo está também o facto de a administração pressionar os médicos quanto a metas que não conseguem alcançar, nomeadamente relativas ao número de cirurgias.

À frente do serviço há 11 meses, João Viterbo foi escolhido pelo diretor clínico para ocupar aquelas funções, mesmo não sendo chefe de serviço na altura. O Centro Hospitalar de São João não promoveu um concurso como seria de esperar para que a vaga fosse preenchida, tendo optado pela “manifestação de interesse”, aponta o Público.

No entanto, o decreto-lei n.º 18/2017, de 10 de Fevereiro, no seu artigo 28.º não deixa dúvidas: “Os diretores de departamento e de serviço de natureza assistencial são nomeados de entre médicos, inscritos no colégio da especialidade da Ordem dos Médicos correspondente à área clínica onde vão desempenhar funções e, preferencialmente, com evidência curricular de gestão e com maior graduação na carreira médica”.

Acontece que o profissional teria à sua frente dois especialistas mais qualificados, que também eram chefes de serviço e um deles tem no currículo, inclusivamente, 12 anos na direção de serviço e um curso de diretor de serviço pela High Quality Advanced Physician Training Research.

O jornal tentou contactar a administração do São João sobre esta questão, mas o centro hospitalar não quis comentar.

Estes pedidos de demissão juntam-se às demissões em bloco de médicos em cargos de chefia que têm vindo a acontecer nos últimos tempos. Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), afirma que, no total, já são “mais de uma centena“.

ZAP // Lusa

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