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“Masculinidade” é critério para se ser polícia no Brasil (e está a gerar polémica)

Fernando Frazão / Agência Brasil

A polícia brasileira incluiu num concurso no estado do Paraná alguns requisitos que estão a gerar polémica, uma vez que é valorizada a “masculinidade” dos candidatos.

São 67 os critérios avaliados no exame psicológico para os postos de cadete oferecidos pela Polícia Militar do Paraná, no sul do Brasil, mas há um em particular que está a gerar críticas por todo o país.

Não mostrar interesse em histórias românticas” ou “não se emocionar com facilidade” são alguns dos requisitos que a polícia brasileira incluiu num concurso no qual se valoriza a “masculinidade” dos candidatos. As inscrições para as provas de acesso para os 16 cargos abriram esta segunda-feira e estão disponíveis para homens e mulheres até 30 anos de idade.

Segundo as condições publicadas, os candidatos terão de passar por um teste psicológico, no qual serão avaliados pela sua “masculinidade“, que surge definida como “a capacidade de um indivíduo não se impressionar com cenas violentas, suportar vulgaridades, não se emocionar facilmente, nem mostrar interesse em histórias românticas e de amor”.

Toni Reis, diretor do grupo ‘Dignidade’, uma organização brasileira que luta pelos direitos LGBT, disse à EFE que “não é normal”. “O Paraná é o quinto estado com maior número de feminicídio do país. É um estado conservador e não pode aceitar este tipo de comportamento porque vai contra a Constituição.”

A busca por uma suposta “masculinidade” é, para o responsável, um critério que reflete “o machismo institucional no Brasil“. “Queremos uma polícia forte, que pode ser firme, mas pode ter sentimentos, não podemos ter um polícia psicopata ou um robô”, disse, acrescentando que já pediram ao Ministério Público que tome uma posição sobre o assunto.

Numa nota, citada pelo Jornal de Notícias, a polícia militar do Paraná afirmou que “não tolera comportamentos e posições discriminatórias de qualquer natureza” e que todos os testes que se aplicam “são instrumentos aprovados pelo Conselho Federal de Psicologia”, que, até ao momento, ainda não se pronunciou.

Além disso, acrescenta que a expressão “masculinidade” gerou uma “interpretação errada para alguns setores da sociedade”. O objetivo do teste psicológico é “avaliar a estabilidade emocional e a capacidade de enfrentar”, aspetos “extremamente necessários para a atividade do dia a dia”.

Este mesmo teste foi utilizado em 2013 e é muito “comum” em instituições de segurança pública e empresas privadas que querem avaliar a capacidade do candidato de não “ficar impressionado com cenas violentas, vulgares e hostis”.

A polícia entrou em contacto com o co-autor do teste psicológico, Flávio Rodrigues Costa, que atestou a validade do instrumento e garantiu não ter “conotação de diferenciação de género, sexo ou qualquer outra forma de discriminação”.

No entanto, José Augusto Araújo, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná, considera que o concurso prevê “situações inusitadas” a partir do momento que se valorizam aspetos “subjetivos”, o que pode ser “ilegal e inconstitucional”.

A polícia já disse entretanto que “está a promover um ajuste do termo masculinidade”.

ZAP //

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