O submarino português Arpão estará até agosto no mar Mediterrâneo, e uma das suas missões é ajudar a identificar, sem ser visto, barcos com migrantes para a Europa.
O submarino NRP Arpão, da Marinha portuguesa, vai realizar até agosto uma missão de mais de 40 dias debaixo de água no Mediterrâneo.
É uma “missão discreta e não publicitada” e “é isso que faz as pessoas não perceberem o que é a ação dos submarinos”, afirmou o comandante Paulo Frade, em entrevista à agência Lusa após a partida da base naval no Alfeite, em Almada, a navegar rumo ao Algarve, a uns 20 metros de profundidade.
Mas para Paulo Frade, esta missão não é uma novidade. Esteve em missão na zona há menos de um ano, em outubro de 2017, e agora a sua expectativa é grande quanto a contactos com barcos de migrantes, dado que é verão e vive mais um período em que imagens da crise migratória entra todos os dias pelas televisões dos europeus com centenas de pessoas amontoadas em barcos.
Paulo Frade explica que a missão na força naval da União Europeia na Operação Sophia é “tentar contrariar, mitigar ou mesmo terminar com o flagelo da migração no Mediterrâneo e toda a economia paralela. E há que ter em conta que existem aspetos financeiros de quem lucra com esta migração para a Europa”, explicou.
O comandante Frade descreve a sua missão nas próximas semanas. “Recolher informações para identificar quem são os traficantes no meio daquele migrantes que só querem chegar a uma terra melhor e ter um futuro melhor”. Por recolha de informação entenda-se tirar fotografias, fazer vídeos, gravar comunicações via rádio e que podem ser úteis às autoridades dos países envolvidos.
Depois, essa informação é “passada aos navios que fazem a recolha” dos migrantes e as autoridades “dão tratamento legal para os líderes dessa embarcação”, descreve.
Debaixo de água, os submarinistas sabem que são uma espécie de “soldado invisível”, como não sabem se a informação que recolheram foi ou não determinante para o sucesso de um salvamento de migrantes ou para a identificação dos traficantes ou facilitadores.
“Tanta discrição, às vezes, é a melhor maneira de fazer as coisas” na missão dissuasora do submarino, mas tem um reverso da medalha: a missão é tão discreta que “faz as pessoas não perceberem o que é a ação dos submarinos”, acrescentou.
Ao contrário do navio patrulha oceânico “Viana do Castelo”, que salvou centenas de migrantes em 2017, como a fragata “D. Francisco de Almeida”, já este ano, ao serviço da FRONTEX, Agência Europeia das Fronteiras, o Arpão não participa nos salvamentos, mas ajuda na localização dos barcos com migrantes.
E Paulo Frade admite que, perante um momento de maior tensão, numa situação de salvamento de migrantes, será difícil não misturar sentimentos mais humanos. “Não invejo nada a missão dos navios de superfície na recolha de migrantes, em especial nos momentos em que existe naufrágio, muitas vezes com perdas de vida. Como não tenho essa experiência, não lhe posso dizer, mas quase de certo que se misturará”
A operação Sophia, em que o submarino português participa, não é da FRONTEX, mas há troca de informações. A rota exacta do Arpão no Mediterrâneo não pode ser revelada porque esse elemento surpresa faz parte da eficácia de um equipamento militar ou “arma” como esta, assente na dissuasão.
Como resume o comandante, “vamos para o Mediterrâneo.” E basta. Sabe-se apenas que fará uma pausa de alguns dias, a meio da missão, na base de submarinos em Taranto, Itália.
O poder de dissuasão e a surpresa são as armas deste navio que, depois de sair do estuário do Tejo, nas missões nacionais, tanto pode estar “numa ação de patrulha tanto podemos estar em Viana do castelo como Açores, Madeira ou costa do Algarve”, descreve.
Portugal tem uma área marítima enorme e não é possível haver navios da Marinha em toda essa área. O submarino acaba, assim, por ter um efeito dissuasor a quem cruze águas portuguesas, sejam navios mercantes, de pesca ou até de armadas estrangeiros, aliadas ou não.
A missão no Mediterrâneo do Arpão ao serviço da força naval da União Europeia na Operação Sophia, de controlo de migrantes, e na operação Sea Guardian, da NATO, termina em agosto, estando previsto a atracagem do submarino em 31 de agosto no cais da Base Naval de Lisboa, no Alfeite.
ZAP // Lusa