Cientistas norte-americanos criaram um novo antibiótico que persegue e elimina as mortíferas super-bactérias resistentes aos antibióticos.
Investigadores da Universidade de Lehigh, na Pensilvânia, EUA, fundiram parte de um antibiótico existente com uma molécula que atrai anticorpos libertados pelo sistema imunitário para combater invasores.
Este “imunobiótico” tem como alvo uma variedade de bactérias responsáveis por doenças como a pneumonia e a intoxicação alimentar, incluindo os que muitas vezes se tornam resistentes a antibióticos de última geração.
“A inspiração veio principalmente do recente sucesso da imunoterapia contra o cancro”, disse Marcos Pires, autor principal do estudo publicado a semana passada na revista Cell Chemical Biology.
A imunoterapia contra o cancro, que Pires descreveu como “revolucionária” para os pacientes, também aproveita o poder do sistema imunológico, mas destrói células cancerosas em vez de bactérias.
A equipa de Marcos Pires queria descobrir se o sistema imunológico pode ser usado para ajudar os antibióticos a trabalhar de forma mais eficiente.
“Antecipámos que a resistência se desenvolveria mais lentamente, devido à dupla forma como actua: por atividade antimicrobiana tradicional e por imunoterapia. Isso deve permitir menos mecanismos para escapar à acção dos nossos agentes”, explica Pires.
O investigador e a sua equipe testaram o novo composto numa série de bactérias declaradas pela Organização Mundial da Saúde como de alta prioridade, por haver muito poucos medicamentos eficazes contra elas.
Entre estas estavam as bactérias Pseudomonas aeruginosa, causa comum de pneumonia em pacientes com cancro, vítimas de queimaduras e pessoas com fibrose cística. Testes em vermes nematóides infectados com Pseudomonas mostraram que o imunobiótico as atingiu com sucesso e eliminou as bactérias.
Ao aderir às bactérias, a droga inflige-lhes danos directos enquanto actua como farol para os anticorpos que acorrem a seguir em massa para terminar o trabalho. No corpo, as bactérias que ficam cobertas de anticorpos são destruídas pelos glóbulos brancos.
Os investigadores basearam o novo composto num antibiótico de último recurso existente, chamado polimixina, que danifica a superfície externa das células bacterianas, fazendo-as explodir e morrer.
Evidências crescentes sugerem que esta última linha de defesa antibiótica está sob ameaça, o que significa que há uma necessidade urgente de novos antibacterianos. A nova droga imunobiológica liga-se a moléculas na superfície de bactérias que não são encontradas em células humanas.
Embora o composto ainda não tenha sido testado em humanos, os investigadores não observaram sinais de toxicidade quando foram testados em células animais.
“Acreditamos que a diferença na composição celular entre células bacterianas e células saudáveis fornecerá a janela de selectividade necessária para atingir as células bacterianas sem afectar as células humanas saudáveis”, afirma Marcos Pires.
Após o teste do novo composto em combinação com um antibiótico existente, ao qual as bactérias já eram resistentes, os investigadores descobriram ainda que as bactérias conseguiram re-sensibilizar a droga para o antibiótico existente.
Este resultado sugere que os antibióticos mais antigos, que se pensava estarem obsoletos à resistência generalizada nas bactérias, ainda podem ser úteis em combinação com o novo medicamento.
Tim McHugh, professor e diretor do Centro de Microbiologia Clínica da UCL, diz que “a ideia de usar uma molécula que atinja a membrana externa de bactérias para melhorar a sua capacidade de resposta a drogas ou anticorpos é muito atraente”.
McHugh explica que “as bactérias são menos propensas a tornarem-se resistentes a substâncias que atacam o sistema imunológico em comparação com drogas que atacam as bactérias mais directamente”.
As bactérias podem sofrer mutações e mudar a sua interacção com um antibiótico, mas não podem mudar directamente o sistema imunológico. Marcos Pires explica ainda que o papel dos imunobióticos é “recrutar anticorpos que os seres humanos já têm”.
“A grande vantagem é que nem é preciso vacinar o paciente”, diz o cientista.
ZAP // Só Notícia Boa / The Guardian / Smithsonian