Os astronautas vão fazer cirurgias no espaço (e será nojento)

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20th Century Fox

Matt Damon, “The Martian” (Ridley Scott, 2015)

No futuro, os astronautas terão que realizar procedimentos cirúrgicos no espaço. Perdas de sangue, urina e matéria fecal serão apenas algumas das possíveis complicações que aguardam os futuros astronautas.

Uma equipa de investigadores da Universidade de Pittsburgh e do King’s College Hospital, em Londres, vasculhou 6 décadas de literatura científica para reunir a mais abrangente (e fascinante) lista de compilações cirúrgicas no espaço. O resultado final foi publicado no dia 19 de junho numa revisão de literatura intitulada de Cirurgia no Espaço.

“Os futuros astronautas vão encontrar inevitavelmente uma série de patologias comuns durante as viagens espaciais de longa distância”, escreveram os autores, acrescentando que as “novas patologias podem surgir da falta de peso prolongada, da exposição à radiação cósmica e do trauma”.

E, pelo menos por agora, os humanos não estão preparados para enfrentar estas complicações a partir do espaço.

Cirurgias no espaço

Os astronautas podem deparar-se com diversos perigos nas suas viagens espaciais no entanto, não há muitas formas de os conseguir controlar. Atualmente, a melhor forma de tratar uma emergência médica a bordo da Estação Espacial Internacional implica o regresso dos astronautas à Terra o mais rápido possível, de acordo com os autores.

Se um astronauta está em Marte – planeta que leva, em condições favoráveis, cerca de 9 meses a chegar – regressar a casa não é uma opção. Ter um médico em Terra a realizar cirurgias remotamente com a ajuda de robôs é igualmente inviável.

“A distância entre a Terra e Marte é de 78.200.000 quilómetros, o que significa um atraso de comunicação entre 4 e 22 minutos para sinais de rádio”, explicaram.

A ser necessário realizar uma cirurgia no espaço, esta deve ser realizada pessoalmente por humano altamente treinados – o que também causa problemas. Para começar, o espaço existente para armazenamento na nave espacial é escasso, mesmo sem que ter que acomodar um pequeno hospital.

“Seria impossível carregar todo o equipamento necessário para tratar cada sintoma”, argumentaram os investigadores.

De acordo com estudos anteriores, uma forma de contornar o problema da falta de espaço, seria a recorrer à impressão 3D. Em vez de dos astronautas carregarem cada ferramenta médica conhecida para tratar o Homem, levariam um banco de dados digital com modelos imprimíveis em 3D para cada ferramenta médica conhecida pela humanidade.

Desta forma, os médicos astronautas poderiam imprimir apenas as ferramentas que necessitavam, só no momento que precisavam delas.

Um intestino flutuante

A própria cirurgia por si só seria um desafio. Para combater a microgravidade sentida a bordo, os pacientes terão que estar fisicamente contidos, de acordo com o estudo. Uma vez que o paciente se encontre seguro, o vazamento de fluídos corporais através das feridas abertas representará outro desafio ainda mais complexo.

“Devido à tensão superficial do sangue, este tende a agrupar-se e a formar cúpulas que se podem fragmentar quando os tecidos são cortados por instrumentos médicos”, disseram os autores, explicando que “estes fragmentos podem flutuar para fora da superfície, dispersando-se por toda a cabine, criando um potencial risco biológico“.

E há ainda um cenário pior: sem a gravidade para manter os órgãos do paciente no lugar, estes podem mesmo flutuar e encostar-se às paredes abdominais dos astronautas durante a cirurgia.

De acordo com os investigadores, a falta de gravidade aumenta ainda o risco dos intestinos de paciente serem acidentalmente “eviscerados” durante o procedimento – vazando bactérias gastrointestinais para o todo o corpo da paciente, bem como para a nave.

Uma forma de evitar a contaminação através do sangue e de outros fluídos seria cobrir o paciente num “recinto hermeticamente fechado” e separado de toda a nave espacial. Esta solução seria uma espécie de Trauma Pod, um pequeno módulo médico selado, que teria que ser construído de forma embutido em futuras naves espaciais.

Ainda há um caminho a percorrer antes de qualquer um destes problemas estar controlado, mas as agências espaciais de todo mundo já se debruçam na resolução destes problemas. A NASA, por exemplo, tem realizado experiências de telemedicina num laboratório subaquático projetado especialmente para simular um ambiente espacial.

Além disso, vários laboratórios têm investigado medicamentos baseados em células estaminais que poderiam ajudar os astronautas a regenerar automaticamente os seus ossos e tecido num ambiente de microgravidade.

Recorrendo à inovação, o espaço – a última barreira da medicina – poderá ser finalmente conquistado.

ZAP // Space.com

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