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Defeitos neuronais podem explicar perturbações no sono em doentes de Parkinson

Uma equipa de investigadores, incluindo o português Jorge Valadas, descobriu que as perturbações do sono nos doentes de Parkinson podem dever-se ao funcionamento defeituoso de um tipo de células cerebrais.

O grupo coordenado pelo neurocientista belga Patrik Verstreken, da Universidade de Lovaina e do instituto de biotecnologia VIB, verificou que os doentes de Parkinson com uma forma hereditária da patologia têm acumulação de neuropéptidos nos neurónios que segregam estas pequenas proteínas em condições normais.

A desregulação da atividade destas células cerebrais está associada às perturbações no sono, um dos sintomas não-motores da doença e uma das queixas ‘top 5’ dos pacientes, disse à Lusa Jorge Valadas, primeiro autor do estudo, sublinhando que 80% dos doentes de Parkinson têm insónias, sono descontínuo durante a noite e sonolência de dia.

No estudo, publicado na revista da especialidade Neuron, os cientistas utilizaram como modelo a mosca-da-fruta com duas mutações genéticas ligadas à doença de Parkinson, por comparação com uma população de mosca-da-fruta saudável.

Os resultados obtidos foram depois validados em neurónios humanos gerados a partir de células estaminais adultas (que se diferenciam em outras células) de doentes de Parkinson com a mesma mutação nos dois genes que está associada à doença e a um dos seus sintomas: a “fragmentação do sono a meio da noite” e a alteração no ritmo circadiano (que regula o estado de vigília e sono).

Na experiência, a equipa de Jorge Valadas constatou que as moscas-da-fruta modificadas geneticamente mexiam-se mais ao longo da noite, ao passo que o grupo de controlo dormia (mantinha-se quieto) durante oito horas.

Ao dissecarem os cérebros das moscas mutantes, os investigadores observaram a acumulação de neuropéptidos nos neurónios que expressam estas proteínas, concluindo que tal se deve à “deficiente produção” das vesículas que transportam os neuropéptidos do sítio onde são produzidos até à sinapse (região de comunicação entre dois neurónios) onde são libertados.

As vesículas (pequenas bolsas das membranas das células cerebrais) são compostas maioritariamente por lípidos (gorduras).

Os cientistas descobriram que um tipo de lípidos – fosfatidilserina – estava em concentrações baixas nas moscas-da-fruta que reproduziam a doença de Parkinson.

Posteriormente, ao darem aos insetos uma dieta alimentar rica em fosfatidilserina, conseguiram ao fim de quatro dias “reverter parcialmente” os sintomas de perda de sono e regularizar os níveis de lípidos.

Nas culturas de células neuronais humanas, a equipa só conseguiu validar a acumulação de neuropéptidos, sem poder confirmar a desregulação no padrão de lípidos (não se sabe, por isso, se a administração de fosfatidilserina, substância que é comercializada como suplemento alimentar, reverte nas pessoas sintomas da doença de Parkinson).

Para o português Jorge Valadas, os neurónios que expressam neuropéptidos podem ser uma “via alternativa para alvos terapêuticos na doença de Parkinson”, até porque, assinalou, os sintomas não-motores da patologia, como as perturbações de sono, “ocorrem dez a 20 anos antes” dos sintomas motores, como tremores e lentidão de movimentos.

Num próximo passo, os investigadores irão testar os resultados em outros “modelos genéticos” da doença, e eventualmente usar ratinhos, antes de avançarem para ensaios clínicos com doentes.

// Lusa

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