Neurocientistas da Fundação Champalimaud descobriram que os neurónios que libertam dopamina são essenciais para iniciar um movimento. Esta descoberta pode trazer um futuro promissor ao tratamento da doença de Parkinson.
A dopamina é um neurotransmissor produzido numa parte do cérebro chamada substância negra. A doença de Parkinson é causada pela morte de células cerebrais que produzem este neurotransmissor. Um estudo, publicado esta quarta-feira na Nature, pode significar um importante passo no tratamento desta doença.
Segundo o Expresso, há muito tempo que os investigadores tentam entender por que é que a ausência de dopamina conduz aos sintomas motores característicos da doença de Parkinson – como a rigidez dos movimentos, a lentidão e os tremores.
Uma equipa de neurocientistas da Fundação Champalimaud e da Universidade da Columbia, nos EUA, descobriu uma diferença significativa no que diz respeito ao arranque da caminhada e ao resto da mesma.
De acordo com o estudo, liderado pelo investigador português Rui Costa, os neurónios responsáveis pela produção de dopamina são fundamentais no início do movimento da caminhada.
Os doentes de Parkinson “não têm um problema global de motivação”. Em vez disso, “o problema dos doentes com Parkinson reside na dificuldade para iniciar o movimento e na lentidão do movimento”, explica o neurocientista e primeiro autor do estudo Joaquim Alves da Silva.
Através de experiências com ratos, os investigadores concluíram que os animais sem a doença apenas precisam de um pico de atividade das células dopaminérgicas, antes do início do movimento, para que este decorra normalmente.
“Mostrámos, pela primeira vez, que a alteração de atividade neuronal serve efetivamente para facilitar, para promover o movimento. E também pela primeira vez, o pico de dopamina que antecede a iniciação de um movimento não modula apenas a iniciação, mas também o vigor do movimento”, explica Alves da Silva.
Os ratos foram colocados numa espécie de arena onde se podiam movimentar livremente. Os cientistas conseguiam medir se os animais se movimentavam ou não e, através de um laser, conseguiam ativar e inativar as células dopaminérgicas dos animais.
Segundo Alves da Silva, para os ratos imóveis bastava “ativar os neurónios durante meio segundo para promover o movimento – e com maior vigor – do que sem a atividade desses neurónios”. Pelo contrário, os neurónios ativados quando os ratinhos já estavam em movimento não provocavam alterações.
Os autores do estudo defendem que estas novas descobertas podem incentivar o desenvolvimento de novos tratamentos com menos efeitos secundários. Estes resultados “permitem explicar por que a dopamina é tão importante na motivação e também por que a falta de dopamina na doença de Parkinson conduz aos sintomas que se conhecem”.