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Cientistas portugueses criam esponja que absorve mercúrio do ambiente

Óleo vegetal, enxofre e sal de cozinha são os ingredientes para um material que pode ser uma das soluções para a poluição do mercúrio, em atividades como a extracção de minério ou a agricultura. E a receita é portuguesa.

O mercúrio volta a ser notícia. Desta vez não são as normas que o lançam, mas sim uma esponja fácil de produzir, barata e eficiente. Trata-se de um material capaz de reter altas concentrações de mercúrio e que foi criado por uma equipa internacional com coordenação portuguesa.

A esponja é simples de produzir. Mistura-se óleo vegetal de fritar com enxofre (um subproduto da produção petrolífera disponível a larga escala) durante 20 minutos a 180 graus Celsius, adiciona-se uma pitada de sal de cozinha: esponjas de coloração acastanhada, aptas a reter elevadas concentrações de mercúrio.

Quimicamente falando, trata-se de um polímero poroso de compostos de enxofre. A “receita” foi publicada num artigo na revista europeia Chemistry.

O óleo alimentar pode ser virgem ou já usado e de três tipos – azeite, canola ou girassol. A eficácia não varia, garante o bioquímico português que coordenou este estudo, Gonçalo Bernardes, do Instituto de Medicina Molecular (IMM) de Lisboa, em parceria com Justin Chalker, da Universidade de Flinders, na Austrália. No entanto, as esponjas que absorvem mais mercúrio são as que, numa escala de 0 a 100%, têm uma percentagem de 50% de enxofre.

Há duas razões para o sal de cozinha entrar na “receita”, embora o cloreto de sódio não seja um dos constituintes do produto final, explica Gonçalo Bernardes: “é essencial porque as esponjas ficam mais porosas e a sua superfície de contacto aumenta”.

IMM

Polímero fabricado com óleo de canola antes de absorver o mércurio

E a verdade é que no final – já após ter sido absorvido o mercúrio -, as esponjas não se tornam novos focos de poluição, assinala ainda o investigador português.  “É importante notar que, mesmo após entrarem em contacto com ar, água ou terrenos altamente contaminados, não se tornam tóxicas“.

Deste modo, talvez estas esponjas antimercúrio venham a fazer parte das estratégias de combate à poluição deste metal tóxico, nomeadamente no âmbito da Convenção de Minamata, cuja primeira conferência está agendada para Setembro, na Suíça.

Portugal ainda não faz parte deste tratado internacional, que entrou em vigor este mês e que procura eliminar este contaminante que pode entrar na nossa cadeia alimentar, por exemplo, através do consumo de peixe.

Estas novas esponjas seguem a lógica da economia circular. “Têm duas vantagens: retêm os poluentes e não os desperdiçam“, salienta o investigador.

A fase de testes avizinha-se. Já em Novembro, o material será testado na Indonésia para a desinfecção de águas e solos, em parceria com a Pure Earth, uma organização não-governamental ambiental dos Estados Unidos.

A poluição afeta mais de 200 milhões de pessoas nos países em desenvolvimento, especialmente as crianças. Nos lugares mais poluídos do mundo, as crianças perdem entre 30 a 40 pontos do seu QI e sofrem de atrasos mentais e físicos, ao mesmo tempo que a esperança de vida dos adultos pode não superar os 45 anos”, informa a Pure Earth.

 

ZAP //

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