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ADN filmado pela primeira vez a replicar-se (e não é bem o que esperávamos)

Pela primeira vez, investigadores conseguiram filmar em close-up uma molécula de ADN a replicar-se. O vídeo mostra em tempo real que esta parte fundamental da vida acontece de forma muito mais aleatória do que pensávamos.

O vídeo foi feito com o ADN de uma bactéria E. coli, e observado numa lâmina de vidro. Os investigadores adicionaram-lhe um corante, que se ligou à cadeia dupla do ADN, mas não às cadeias separadas, tornando possível acompanhar o processo nos momentos em que a hélice se divide e se replica.

Apesar de o ADN da bactéria e do Homem serem diferentes, usam o mesmo processo de replicação, pelo que os cientistas esperavam que a filmagem revelasse informações interessantes sobre o que acontece no corpo de todos os seres vivos.

O resultado da observação foi que, em média, a velocidade de replicação nas duas cadeias era igual, mas durante o processo, havia paragens e reinícios surpreendentes, como se as duas partes fossem entidades separadas, cada uma com a sua própria linha cronológica.

Em algumas situações, uma cadeia interrompia a síntese, enquanto a outra continuava a crescer. Em outros momentos, a cadeia replicava-se a uma velocidade 10 vezes maior do que o normal – sem motivo aparente.

“Mostramos que não há coordenação entre as duas cadeias. Elas são completamente autónomas”, diz Stephen Kowalczykowski, investigador da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e principal autor da pesquisa, que foi publicada na revista Cell.

“É muito diferente do que vemos nos livros e de tudo o que sabíamos sobre a replicação do ADN – e levanta muitas questões”,  acrescenta o cientista.

O investigador descobriu ainda que devido a esta falta de sincronização entre as cadeias, a hélice de ADN tem uma espécie de travão de emergência, que impede a helicase, a enzima responsável por quebrar as ligações de hidrogénio entre as duas cadeias, de avançar indefinidamente – o que causaria uma situação de caos entre as duas cadeias, que resultaria numa mutação genética.

A grande questão agora é: se as duas cadeias funcionam de forma independente, como o vídeo sugere, como é que a hélice sabe como usar o travão e minimizar mutações? Novas pesquisas poderão certamente responder a esta pergunta em breve.

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