O ex-presidente da Odebrecht e mais de 50 executivos e funcionários da empreiteira brasileira fecharam acordos para prestar informações à Operação Lava Jato em troca de eventuais reduções de pena.
O jornal O Globo avançou esta terça-feira que estes acordos conhecidos como delações premiadas (prestação de informações em troca de eventual redução de pena), alcançados após oito meses de negociações, representarão a maior série de acordos do género fechados no país, segundo uma fonte ligada às investigações.
O jornal avança ainda que outros acordos estão pendentes de acertos finais entre investigadores e investigados.
Na fase preliminar das negociações do acordo agora alcançado, Marcelo Odebrecht e outros executivos referiram os nomes de pelo menos 130 deputados, senadores e ministros e 20 governadores e ex-governadores.
Entre eles estão o Presidente brasileiro, Michel Temer, e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), José Serra (Relações Exteriores) e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo).
Também foram referidos Antônio Palocci, ex-ministro nos governos de Lula da Silva e de Dilma Rousseff que se encontra detido, e Guido Mantega, que também passou pelos dois executivos do Partidos dos Trabalhadores (PT) e que chegou a ser preso por algumas horas em setembro, assim como o ex-deputado Eduardo Cunha.
Para fontes com acesso à investigação citadas pelo Globo, as acusações atingem “de forma democrática” líderes de todos os grandes partidos que se encontram no Governo ou na oposição.
“Não vai ser o fim do mundo, mas são informações suficientes para colocar o sistema político em xeque“, disse ao diário um dos envolvidos nos ajustes entre investigados e a equipa que investiga o caso.
Marcelo Odebrecht encontra-se detido em Curitiba desde 2015, e em março foi condenado, por corrupção ativa, branqueamento de capitais e associação criminosa, a 19 anos a e quatro meses de prisão.
A Operação Lava Jato investiga um mega-esquema de corrupção envolvendo a petrolífera estatal Petrobras, empresários e políticos.
O Globo refere que os acordos deverão ser assinados após os depoimentos, que devem ser finalizados entre o final deste ano e o início de 2017.
O alto número de delatores criou problemas estruturais na operação, uma vez que foram destacados 10 investigadores para conduzir, pelo menos, 50 delações de executivos e funcionários da maior empreiteira do país – um número ainda não confirmado indica a existência de 68 delatores.
Os investigados serão alinhados conforme participação nos esquemas de corrupção e relevância na hierarquia das propinas. Os interrogatórios devem ser feitos em São Paulo, Brasília, Salvador e Curitiba, onde Marcelo Odebrecht está preso.
A tarefa é considerada longa e árdua. Pelos padrões da Lava-Jato, um investigado nunca presta menos do que 10 longos depoimentos, sendo que alguns são chamados para prestar esclarecimentos mais de 50 vezes.
ZAP / Lusa