O Ministério da Educação recuou na retirada da obra do escritor José Saramago “Memorial do Convento” do novo programa de Português do secundário, mas durante dois anos será obrigatoriamente substituída por “O Ano da Morte de Ricardo Reis”.
De acordo com o programa de Português do ensino secundário, hoje homologado, os alunos do 12.º ano vão poder optar entre estudar o “Memorial do Convento” ou “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, ambas obras de José Saramago.
A exceção acontece nos anos letivos de 2017-2018 e 2018-2019, em que “O Ano da Morte de Ricardo Reis” se impõe a “Memorial do Convento”, obra icónica do único Prémio Nobel da Literatura português e que integrava os currículos do secundário há largos anos.
A justificação para a imposição de dois anos é dada numa nota de rodapé do próprio programa, na qual se pode ler que, “com esta indicação, pretende-se fomentar o conhecimento desta obra, tornando-a tão divulgada junto de professores e alunos quanto ‘Memorial do Convento’, permitindo que a opção por uma das obras, no futuro, seja mais sustentada”.
A proposta para o novo programa de Português, que esteve em consulta pública no final de 2013, previa a substituição deste texto do Nobel da Literatura por outros dois romances da sua autoria: “O Ano da Morte de Ricardo Reis” e “História do Cerco de Lisboa”.
Esta opção foi “veementemente reprovada” pela Associação de Professores de Português (APP).
“Se a intenção era apenas mudar para um novo texto, outras obras havia mais significativas para os alunos, como, por exemplo, ‘Ensaio sobre a Cegueira’ ou ‘Ensaio sobre a Lucidez'”, defendeu, em declarações à Lusa, a presidente da APP.
Mas as críticas mais fortes vieram do próprio município de Mafra, que enviou um parecer ao Ministério da Educação a contestar a opção de retirar a obra dos currículos.
Para a Câmara Municipal de Mafra, a história da construção do Palácio e Convento de Mafra, no século XVIII, que serve de pano de fundo ao romance de Saramago, “exerceu um papel fundamental na valorização turístico-cultural do concelho, contagiando positivamente a economia local”, até pelo número de visitas de estudo recebidas no monumento nacional, em consequência de ser uma das obras de estudo obrigatório do secundário.
“Só em 2012, mais de 64 mil alunos, provenientes de cerca de 600 escolas de norte a sul do país, visitaram o Palácio Nacional de Mafra, dos quais 26 mil assistiram, também, à peça de teatro com o mesmo nome”, vinca a autarquia em comunicado, depois de conhecida a proposta do novo programa.
O programa de Português hoje homologado inclui uma novidade para os alunos do ensino secundário: o ‘Projeto de Leitura’, que se traduz em listas de obras de autores de língua portuguesa ou traduzidos para Português, das quais os estudantes têm que escolher, em cada ano, um ou dois títulos, que terão que ler, para além das obras de leitura obrigatória que constam do programa.
Para além de obras de escritores portugueses não obrigatórios nos currículos, como Vitorino Nemésio, Fernando Namora ou José Cardoso Pires, as listas incluem ainda nomes lusófonos como Mia Couto, Ondjaki, Pepetela, autores clássicos como Shakespeare, Prémios Nobel como Gabriel Garcia Márquez ou Orhan Pamuk e poetas como Pablo Neruda ou Walt Whitman.
/Lusa