Especialistas belgas e noruegueses desvendaram o mistério da mancha no quadro mais famoso de Edvard Munch, “O Grito” (1893), que tem intrigado o mundo da arte nas últimas décadas.
“Nos últimos anos do século XIX, Edvard Munch pintou quatro versões do ‘Grito’, uma pintura que hoje em dia é considerada uma obra-prima do Expressionismo”, explica Nils Ohlsen, um dos diretores do Museu Nacional da Noruega, em Oslo, onde se encontra o exemplar mais icónico da obra.
Esta versão tem algumas particularidades: além de ser considerado o exemplar mais antigo, tem uma série de manchas brancas na sua superfície, em especial uma mancha logo abaixo do ombro direito da figura que grita.
Alguns investigadores acreditavam que essa mancha esbranquiçada pudesse ser dejetos de pássaros, já que Munch costumava pintar ao ar livre, enquanto outros consideravam que o artista fez a marca intencionalmente.
Os respingos já ali estavam quando a pintura veio diretamente do estúdio de Munch para a coleção do museu, em 1910.
A investigadora Tine Frøysaker, da Universidade de Oslo, sempre desconfiou da teoria de que se tratava de caganitas de pássaro.
Em maio deste ano, a especialista em conservação convidou uma equipa de especialistas da Universidade de Antuérpia, na Bélgica, para identificar os materiais e técnicas usados por Munch na pintura – incluindo a misteriosa mancha.
Esta versão de “O Grito” foi sondada com um scanner de fluorescência de alta potência de raios-X Macro (MA-XRF) para descobrir como Munch construiu as suas camadas de tinta, e até mesmo levou uma amostra microscópica da substância branca para ser testada num acelerador de partículas.
Este equipamento, desenvolvido pelo grupo de trabalho AXES, tem sido utilizado para resolver grandes mistérios da arte, analisando pinturas de artistas como Van Eyck, Rubens e Van Gogh.
Os investigadores descobriram tratar-se de uma marca de cera, que provavelmente escorreu de alguma vela no estúdio de Munch. As manchas encontram-se no topo da tinta, e foi-se descascando ao longo do tempo sem danificar o trabalho.
Não foram identificados indícios anormais de chumbo, zinco ou cálcio, e as partículas das manchas estão mais próximos dos cristais de cera de abelha do que excremento de aves.
“Acho que já podemos dar o caso por encerrado no que toca aos excrementos das aves”, concluiu Geert Van der Snickt, da Universidade de Antuérpia.
AF, ZAP