A suposta relação extraconjugal entre o presidente francês, François Hollande, e uma atriz está a provocar interrogações em relação ao estatuto jurídico da primeira-dama, Valérie Trierweiler, que não é casada com o chefe de Estado. Não existindo um laço matrimonial, a primeira-dama francesa será a mulher que estiver – actualmente – ao lado do presidente.
As implicações são institucionais, já que Trierweiler dispõe, como qualquer primeira-dama, de verbas públicas para compor um gabinete com assessores, entre outras despesas, e também do ponto de vista diplomático, já que acompanha Hollande em visitas oficiais internacionais, representando a França.
No dia 24 deste mês o presidente francês terá um encontro com o papa Francisco, e a imprensa francesa já questiona se a sua companheira participará desta visita. Também não se sabe se Trierweiller irá com Hollande para os EUA a 11 de fevereiro, para um encontro com Barack Obama.
Alguns políticos também solicitam que Hollande esclareça rapidamente a situação de Trierweiler. Isso poderá acontecer já esta semana, em que Hollande vai dar uma conferência de imprensa – prevista há semanas – para pormenorizar a sua linha de acção política e económica deste ano. O evento terá a presença de cerca de 600 jornalistas de todo o mundo.
No entanto, a entrevista corre o risco de ser ofuscada pelos rumores de relação extraconjugal.
Estatuto em questão
A polémica começou após a publicação, na sexta-feira, de uma reportagem da revista de celebridades Closer intitulada “O amor secreto do presidente“, que revelaria a sua suposta relação com a atriz francesa Julie Gayet, de 41 anos.
Esta é a primeira vez na história da França que a primeira-dama não é casada oficialmente com o chefe de Estado. Por este motivo, o suposto caso de infidelidade tem levantado questões que não existiram com outros presidentes franceses que também tiveram relações extraconjugais, como Valéry Giscard d’Estaing, François Mitterrand e Jacques Chirac.
“Se as revelações da Closer se confirmarem, podemos nos interrogar sobre o estatuto de Valérie Trierweiler. É normal que ela permaneça no palácio do Eliseu com as despesas pagas pelo contribuinte enquanto o presidente tem outras relações? Quem é hoje a primeira-dama da França?“, interroga-se em um comunicado o deputado Daniel Fasquelle, do UMP, da oposição.
A líder da extrema-direita, Marine Le Pen, afirmou esta segunda-feira que há um problema jurídico em relação à primeira-dama. “A companheira do chefe de Estado não tem nenhum estatuto. Por isso, os recursos utilizados em comunicação, secretariado e assessores não têm base legal“, diz ela.
Não há uma verba definida legalmente para a primeira-dama. Segundo um relatório divulgado pelo primeiro-ministro, Trierweiler teria cortado para metade os gastos mensais do seu gabinete (de cerca de 20 mil euros) por comparação com as despesas efectuadas pela ex-primeira-dama Carla Bruni.
Valérie Trierweiler está hospitalizada desde sexta-feira, após a publicação da Closer, “para repousar e fazer alguns exames”, segundo o seu gabinete. Ela deveria ter deixado o hospital esta segunda-feira, mas neste momento há previsões da data de saída.
Segundo a imprensa francesa, Valérie retirou o título de “primeira-dama” da sua conta no Twitter antes da hospitalização.
A relação entre Hollande e Trierweiler tornou-se pública em 2010. Ela tinha sido sua amante na época em que Hollande ainda vivia com Ségolène Royal, com quem teve quatro filhos. Royal anunciou a separação imediatamente após a sua derrota nas eleições presidenciais de 2007.
Trierweiler, de 48 anos, tem três filhos de um casamento anterior e utiliza até agora o sobrenome do ex-marido.
O ex-presidente Nicolas Sarkozy foi o único a divorciar-se e casar novamente durante o seu mandato. Após a separação, Sarkozy casou-se rapidamente com a modelo e cantora Carla Bruni, após um curto namoro. Quando Bruni se instalou no Palácio do Eliseu, sede da presidência, já era sua esposa.
Impacto político
Na sexta-feira passada, até políticos da direita chegaram a defender o direito à protecção da vida privada do presidente. Mas os ataques começaram logo após a hospitalização de Trierweiler.
“Este caso é desastroso para a imagem da função presidencial”, afirmou Jean-François Copé, líder do UMP.
Outros políticos da oposição criticaram o comportamento “ridículo” e imprudente do presidente, que teria ido encontrar-se com a suposta amante de mota, sem escolta policial, e teria sido visto a entrar e sair do apartamento que seria usado para os encontros com um capacete na cabeça.
Alguns dizem que seria inimaginável pensar que Barack Obama fizesse algo deste tipo.
Um inquérito realizado pelo Journal du Dimanche, publicada no domingo, revelou que 77% dos franceses acham que o caso é um “assunto privado que diz respeito apenas a Hollande“.
“Hollande é tão impopular que isso não muda nada”, diz Frédéric Dabi, diretor do instituto de pesquisas Institut français d’opinion publique (IFOP).
Mas o inquérito foi feito antes da confirmação oficial da hospitalização de Trierweiler, que para alguns analistas poderá ampliar o impacto político negativo do caso para Hollande.
ZAP / BBC
Affair de Hollande
-
29 Janeiro, 2014 “Caso” de Hollande inspira campanhas e esgota capacetes
-
25 Janeiro, 2014 Presidente francês anuncia “fim da vida comum” com atual companheira
-
18 Janeiro, 2014 Valérie Trierweiler saiu do hospital
-
14 Janeiro, 2014 Quem é hoje a primeira-dama de França?
-
11 Janeiro, 2014 Caso com atriz desgasta ainda mais imagem de Hollande