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Lourenço, o bebé milagre, levou os médicos às lágrimas

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aarongilson / Flickr

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Esta semana, Portugal viu nascer o pequeno Lourenço, que esteve durante mais de três meses no ventre da mãe em morte cerebral. O “bebé milagre”, que deixou os médicos emocionados, deverá ser criado pelos avós. 

Durante 15 semanas, Sandra Cristina foi mantida viva artificialmente para que o filho pudesse nascer, desafiando os limites da ciência. O parto, que foi feito às 32 semanas de gestação pelos médicos do Hospital de S. José, em Lisboa, é inédito em Portugal e muito raro no mundo.

Lourenço, nome escolhido pela mãe, deverá ficar os cuidados dos avós, já que o pai não tem condições para o criar, revela a TVI24. Com o progenitor ficou o outro filho de Sandra, de 12 anos, que já estava a viver com o pai desde a morte da mãe.

Sandra Cristina foi cremada esta quarta-feira, numa cerimónia na Póvoa de Santa Iria, onde vivia até ao dia em que lhe foi diagnosticada uma hemorragia intracerebral.

O jornal i relata que a mãe soube o sexo do bebé e chegou mesmo a escolher o nome.

Prevê-se que o pequeno Lourenço possa sair dos cuidados intensivos dentro de três semanas, se estiver estável, como acontece com outros bebés prematuros.

Quanto ao futuro da criança, os profissionais mostram-se otimistas, mas não se comprometem com garantias quanto ao seu desenvolvimento.

Médicos emocionados

Este caso, inédito na Medicina portuguesa, foi vivido com emoção pelos profissionais que acompanharam a situação ao longo de três meses e meio no Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC).

Houve uma carga emocional fortíssima“, afirmou a presidente do Conselho de Administração do CHLC, Ana Escoval.

“Foi interessante ver que as pessoas que estão habituadas a todos os dias cuidarem, ver nos seus rostos a emoção, a lágrima, quando aconteceu o nascimento”, afirmou a administradora.

Também o diretor clínico do hospital de São José, António Sousa Guerreiro, sublinhou que se trata de uma história de contrastes: “Temos uma profunda tristeza com a morte de alguém e um momento de alegria com o nascimento de uma criança”.

Susana Afonso, especialista dos neurocríticos, admitiu igualmente que “é impossível do ponto de vista emocional não ficar afetado” com esta história.

Apesar da componente emocional e afetiva do caso, os profissionais garantem que a base de todas as decisões foi racional. Primeiro decidiu-se a viabilidade do feto e considerou-se que havia condições para o processo poder avançar. O apoio da família à decisão foi fundamental, acrescentou Sousa Guerreiro.

Para manter a gravidez com a mãe em morte cerebral, os especialistas explicaram que foi dado o suporte hormonal e nutricional necessário para a manutenção das funções vitais e para o desenvolvimento da gestação.

“Os fármacos administrados foram aqueles que o organismo produz quando as funções vitais estão intactas”, afirmou aos jornalistas Ana Campos, obstetra da Maternidade Alfredo da Costa – que pertence ao CHLC – e que acompanhou o caso.

“Todos os dias a equipa de enfermagem fazia a palpação do abdómen, diziam que uma vez que a mãe não tinha emoções era uma forma de sentir calor humano“, exemplificou a diretora de serviço da MAC, mostrando até que ponto este caso mexeu com os afetos de todos os profissionais.

O momento do nascimento, por cesariana programada, ocorreu quando foram atingidas as 32 semanas de gestação, uma idade gestacional em que a sobrevivência é muito elevada.

Segundo a neonatologista Teresa Tomé, além da idade gestacional permitir alguma segurança em termos de sobrevivência, os médicos quiseram preservar o recém-nascido de “uma incubadora artificial” da qual se desconhecem as consequências.

De acordo com a equipa de profissionais, o nascimento de um bebé com mãe em morte cerebral há 15 semanas é um facto inédito na medicina portuguesa, mas já aconteceram casos a nível internacional.

Segundo Ana Campos, um estudo internacional de 2010 indica que a duração de gestações com as grávidas em morte cerebral foi de entre dois a 107 dias. O caso de São José durou precisamente 107 dias.

ZAP / Bom Dia

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