O acidente nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, pode ter afectado milhares de europeus em países tão distantes como a Bélgica. É o que conclui um novo estudo que faz uma associação entre o acidente e o aumento do número de cancros da tiróide em crianças belgas.
A investigação, que tem em conta dados dos últimos 30 anos, concluiu que “a exposição à radiação afectou residentes de países muito para lá da Ucrânia e da Bielorrússia”, destaca o artigo publicado no jornal científico Acta Chirurgica Belgica.
“Durante 30 anos, houve uma incidência persistente e maior de cancro papilífero da tiróide entre as crianças belgas com idades abaixo dos 15 anos, na altura do acidente de Chernobyl”, constata-se na mesma publicação.
O desastre nuclear, que ocorreu em Abril de 1986, já foi associado ao aumento de cancro na tiróide em crianças residentes na Ucrânia e na Bielorrússia.
Trata-se de um tipo de cancro que é raro nas crianças mas que pode também ter sido incrementado na Bélgica e potencialmente noutros países igualmente distantes de Chernobyl, por causa dos altos níveis de radiação libertados aquando do acidente.
Tal como se explica no comunicado que noticia os resultados da pesquisa, os investigadores do Hospital Universitário de Mont-Godinne, em Yvoir, na Bélgica, partiram da disparidade entre os dados registados até Abril de 1986, em que não foi verificado nenhum caso de cancro na tiróide em crianças, com aqueles que se notaram em 1995, altura em que foram reportados quatro casos em pacientes que tinham menos de nove anos de idade aquando do desastre nuclear.
Entre 2000 e 2002, mais cinco crianças, com menos de 12 anos aquando do acidente, foram tratadas a este tipo de cancro.
A equipa de investigação recolheu todos os novos casos de cancro da tiróide verificados em pacientes nascidos antes de Abril de 1986 e que foram operados no hospital entre aquele ano e Abril de 2015.
Os dados indicam 36 novos casos (19,5%) de cancros da tiróide entre 185 crianças belgas que tinham menos de 15 anos, na altura do acidente, e 175 casos (8.1%) em 2.164 pacientes que tinham mais de 15 anos, aquando do desastre.
Os investigadores também tiveram em conta informações do Instituto de Meteorologia da Bélgica, reportando que os níveis de radioactividade atmosférica, no início de Maio de 1986, ou seja, logo a seguir ao acidente, subiram para níveis 20 vezes mais altos do que o normal na Bélgica.
SV, ZAP
… e o leitinho barato que vem de onde mais ninguém o compra?