Joana Mortágua e Nuno Melo discutem habitação e imigração com dois fantasmas à mesa

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ZAP // Miguel A. Lopes / Estela Silva // Lusa

Não concordam em nada, mas a representante do Bloco de Esquerda até citou Paulo Portas. Um fantasma inesperado sentou-se à mesa no debate entre Nuno Melo e Joana Mortágua: Salazar.

O confronto desta quarta feira entre os representantes da AD e do Bloco de Esquerda foi um debate de figuras secundárias. Nem Luís Montenegro nem Mariana Mortágua deram a cara pelos seus partidos, tendo sido substituídos por Nuno Melo e Joana Mortágua.

O tom foi cordial, com várias “farpas” ignoradas mutuamente, mas todos os temas separaram os dois protagonistas, a começar pela habitação e, em concreto, a proposta bloquista de colocar tetos às rendas.

Joana Mortágua acusou a AD de ter implementado medidas que aumentaram os preços das casas e argumentou que o país “já não aguenta a lengalenga da construção”.

“É verdade que nós precisamos de construção, mas veja bem, eram 26 mil, depois 59 mil, a seguir 130 mil, é o milagre das rosas da construção da habitação, e as pessoas não podem ficar à espera de um milagre”, ironizou, insistindo que esta medida funciona nos Países Baixos.

Por seu turno, Nuno Melo defendeu que “a origem do problema” é a falta de oferta de habitação e atirou: “Eu sei que os senhores não acreditam muito nas dinâmicas do mercado mas como não há casas, esse é um problema que tem que ser resolvido através da construção”.

E o líder do CDS colou mesmo a medida do Bloco de Esquerda aos tempos Salazaristas. “O BE tira agora da cartola esta coisa do teto das rendas como sendo uma grande inovação, que não é. A medida é de 1948, foi introduzida pelo professor Salazar, durante o Estado Novo, saíamos de um surto inflacionário no pós-guerra e não funcionou em Portugal e não funciona fora” argumentou.

Nuno Melo acrescentou ainda que “o Kadaster, que é a entidade responsável pelos registos em Amesterdão, e o presidente do Banco Central da Holanda dizem que a lei tem que ser revertida porque tem levado a uma retirada crescente de investidores no mercado de arrendamento, à erosão do parque habitacional para arrendamento e à redução do número de casas disponíveis para arrendamento”.

“O exemplo que dão é falso, mas vendem-no como verdadeiro”, acusou.

Na resposta, Joana Mortágua insistiu que a construção é necessária mas vai demorar tempo.

“Eu não sei se é de uma enorme arrogância ou se é de uma enorme cobardia face aos interesses que estão por trás da especulação imobiliária dizer que a Europa inteira está errada. Quando a Europa inteira conseguiu controlar, se não diminuir, preços das casas”, atirou.

Montenegrização, venturização

Pelo meio dos temas para o país, houve ainda espaço para Nuno Melo reiterar que “a AD só governa se ganhar as eleições”, e deixar um pedido aos que votaram no Chega: “o Chega votou tudo aquilo que foi apresentado pela esquerda, nomeadamente pelo Bloco”, e que “fez cair 3 governos”, dos Açores, da Madeira, e da República. Pede a esse eleitorado que vote na AD.

Quando questionada pelo moderador sobre “qual o grau de montenegrização do BE”, Mortágua teve resposta pronta: “A montenegrização é o arremesso constante de fantasmas”, disse, voltando a trazer para cima da mesa a comparação com Salazar. Nuno Melo “sonha com Salazar”, e é por isso que a compara a ele, disparou.

A bloquista falou ainda da “aproximação da AD ao Chega”: uma “venturização”, afirma.

Saúde, imigração, e… Paulo Portas

Na saúde, o clima aqueceu, e Nuno Melo recuou à geringonça para responsabilizar o BE pelo agravamento da situação, ao “atirar ideologia para cima dos problemas”.

O centrista deu como exemplo o fim das parcerias público-privadas e considerou “quase criminoso” o que se fez no Hospital de Braga. A deputada bloquista respondeu que “ideológico é encerrar urgências para as entregar aos privados”.

O tema da saúde foi trazido para cima da mesa por Joana Mortágua, que usou as urgências que estarão fechadas neste fim de semana e a situação de caos no INEM como arma de arremesso. Nuno Melo recordou que o governo só teve 11 meses, e apresentou números que provam as “coisas importantes” na saúde feitas pela AD.

Quando o debate entrou no tema da imigração, Joana Mortágua acusou o Governo de ter “feito de conta” que limitou a entrada de imigrantes no país e aí chegou mesmo a citar o ex-líder do CDS-PP Paulo Portas.

“Os trabalhadores vão continuar a entrar. E sabe porque é que vão continuar a entrar? Quem explica é Paulo Portas, quando pergunta: quem é que nos vai servir à mesa nos restaurantes? Quem é que vai fazer os quartos dos hotéis? Quem é que vai para as gruas da construção civil? Quem é que faz a entrega das compras ‘online’? Portugal precisa de imigração regulada, de imigração regularizada”, disse.

A bloquista rejeitou que os imigrantes venham “por encomenda dos empresários” e pediu respeito por estes cidadãos.

Nuno Melo – que gracejou que ouvir a adversária citar Paulo Portas significa que “nem tudo está perdido” – acusou o BE de uma “demanda ideológica” que condena os imigrantes “à exploração e à fome”.

Na Defesa, o ministro rejeitou que o investimento nesta área seja “um papão” que vai tirar verbas de outros setores, e Joana Mortágua acusou Melo de estar “em negação” ao apoiar a NATO que “é controlada pelo melhor aliado de Putin”, Donald Trump.

ZAP // Lusa

2 Comments

  1. o que “funciona” é NÃO fazer nada, funciona melhor promover a INFLAÇÂO na Habitação com os incentivos para Jovens, Vendas a estrangeiros e o AL. Há 9 Habitaçoes da Diocese do Porto cujos moradores foram expulsos para darem lugar ao AL.
    Excelente !

  2. Afinal o Salazar era Bloquista! Daria-se muito bem com BE.
    Vejam lá aonde chega o irracional deste pseudo-politicos-democratas.
    “Perdoa-lhes Pai, pos não sabem o que dizem, nem sabem o que fazem”, disse o Altissimo.
    É esta cnagalhada de gente que abunda na “Direita” em PT, gente que nem para empregados de quarto servia, mas chegam a Ministros, Presidente de Camara e até Presidentes da Republica.

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