Vários protótipos de aviões que pretendem trazer de volta as viagens supersónicas comerciais têm dado grandes passos nos últimos anos – mas não se sabe até que ponto o regresso destes voos será bem aceite pelos clientes.
Os aviões supersónicos comerciais poderão estar de regresso já em 2025, pela primeira vez desde que o Concorde foi retirado, em 2003.
O mítico avião supersónico desenvolvido por um consórcio britânico e francês foi descontinuado depois de, a 25 de julho de 2000, um Concorde operado pela Air France se ter despenhado pouco depois da descolagem.
O acidente, causado por um destroço presente na pista, matou na altura as 109 pessoas a bordo e quatro em terra — e matou também o revolucionário Concorde.
Nos últimos anos, porém, a ideia de apostar em aviões supersónicos ressuscitou; várias empresas estão já a trabalhar no desenvolvimento de tecnologias para esta plataforma, e até a NASA está a investir milhões.
Mas, antes que possam ser usado, há muito para melhorar. Como escreve a New Scientist, estes aviões criam ondas de choque quando ultrapassam a velocidade do som, que é de cerca de 1224 quilómetros por hora.
O resultado desta velocidade é um estrondo sónico tão forte que pode assustar os seres humanos e outros animais e até partir janelas e acionar alarmes de automóveis.
Quando voava a 15.000 metros, o Concorde criava um estrondo que atingia uma área de 100 quilómetros de diâmetro. Por este motivo, muitos países proíbem a utilização de aviões comerciais supersónicos.
A NASA está a desenvolver um protótipo de avião que designa por X-59, no âmbito do seu projeto Quiet Supersonic Technology (Quesst).
O avião está a ser construído pela Lockheed Martin e o objetivo é investigar formas de minimizar as explosões sónicas.
A NASA planeia sobrevoar as principais cidades dos EUA em 2025 a 1510 quilómetros por hora.
Estão também a ser desenvolvidos esforços para conceber aviões que possam atingir quase o dobro da velocidade do som.
A empresa americana Boom Supersonic está concentrada num protótipo a que chama XB-1. Voou pela primeira vez em março de 2024 e tem vindo a aumentar os voos de teste desde então. O plano é que ultrapasse a barreira do som nos próximos meses.
Os voos teste do XB-1 voos servirão de base para a conceção do avião de passageiros Overture da empresa, que, segundo a mesma, poderá transportar 80 passageiros. A empresa afirma que o primeiro avião sairá da linha de produção em 2025, mas só transportará passageiros em 2029.
Na vanguarda dos voos de teste está também a Dawn Aerospace, que lançou a sua nave Aurora em novembro. A empresa afirma que esta é a primeira vez que um avião civil voa a velocidades supersónicas desde o Concorde.
O que pode falhar?
Além do problema do já referido estrondo sónico, não se sabe se haverá um mercado para este tipo de voos, desde logo devido à grande pegada de carbono.
Além disso, o excesso de ruído significaria que os futuros aviões supersónicos teriam de sair da costa de um país antes de ultrapassarem a barreira do som e seriam excluídos das rotas que apenas passam por terra.
Ben Evans, da Universidade de Swansea, no Reino Unido, conta à New Scientist que se lembra de ter ouvido em criança o estrondo sónico do Concorde quando este passou o Canal de Bristol (uma enseada costeira no sudoeste de Inglaterra), depois de lhe ter sido permitido acelerar para além da velocidade do som. Apesar dos esforços feitos, problemas semelhantes serão enfrentados pelas futuras naves supersónicas-
“Não estou convencido de que haja um mercado para isso. As maiores preocupações das pessoas vão ser a sustentabilidade e o conforto“, considerou Evans.
Evans acredita que muitas das empresas que desenvolvem aviões supersónicos e hipersónicos ostensivamente para o transporte comercial sabem que a fonte mais provável de receitas provém das aplicações militares, em que os orçamentos e as pegadas de carbono são considerados menos importantes do que o desempenho total.