/

6 mil anos depois, alguém está mesmo a reinventar a roda

1

Se a roda foi uma das invenções mais perfeitas e revolucionárias de todos os tempos, será que é preciso “reinventá-la”? Uma das maiores fabricantes de pneus do mundo parece pensar que sim.

Há indícios arqueológicos que apontam para a existência de veículos com rodas desde o quarto milénio antes de Cristo. E desde então, toda a gente já ouviu dizer (e disse) que não é preciso reinventar a roda.

Mas a Goodyear discorda.

No Salão do Automóvel de Genebra, que acaba de fechar as portas, a famosa fabricante de pneus apresentou um novo conceito de pneu projectado especialmente para veículos autónomos.

E na realidade o Eagle-360 literalmente reinventa a roda com um impressionante design esférico.

“Não estamos a tentar prever o futuro, mas estamos a estudar o futuro da mobilidade e da conectividade”, afirmou Keith Price, porta-voz do departamento de investigação e desenvolvimento da empresa.

Levitação magnética e natureza

Há inúmeras vantagens em pneus em forma de esfera. Com pneus esféricos, um carro sem condutor pode mover-se em qualquer direcção, em qualquer ângulo e a qualquer momento – rodando o veículo sem sair do lugar, ou deslizando lateralmente num lugar de estacionamento mais apertado.

Estas manobras são impossíveis com p tradicional interface motorista/volante, em que é necessário um impulso para a frente para poder executar uma curva.

Mas com um robô ao comando de um pneu esférico, praticamente tudo é possível.

Goodyear

-

O Eagle-360 resolve o problema da ausência de um eixo central com levitação magnética

Mas desvantagens são óbvias: uma esfera não tem um eixo central, e, por isso, nenhum ponto para o encaixe de um sistema de transmissão.

O Eagle-360 pretende superar esse obstáculo usando levitação magnética para sustentar o veículo acima dos seus pneus, e aplicar a mesma tecnologia para conduzir e travar.

Actualmente, a levitação magnética só é usada em comboios, e a Goodyear adiantou que não está a trabalhar com nenhum parceiro para desenvolver uma versão redonda da levitação magnética.

Ou pelo menos, não estava, até à apresentação do Eagle-360 em Genebra. “Não me surpreenderia se alguém nos procurar agora para discutir o assunto”, confessa Price, citado pela BBC.

O conceito do Eagle-360 representa também uma solução engenhosa para outro problema. Enquanto o padrão linear parece fazer sentido quando um pneu gira em torno de um só eixo, uma esfera precisa de aderência em todas as direcções.

Para resolver esse problema, a Goodyear foi procurar na natureza – e encontrou a resposta nas espirais do coral-cérebro, da família das Faviidae, que apresenta uma textura com características de aderência únicas.

Tal como como as pontas dos nossos dedos, o novo pneu torna-se assim mais macio e aderente em condições húmidas, mas mais firme em tempo seco.

jayhem / Wikimedia

A Goodyear baseou a superfície do  Eagle-360 na textura simétrica do coral-cérebro dos mares de Belize

A Goodyear baseou a superfície do Eagle-360 na textura simétrica do coral-cérebro dos mares de Belize

“As construtoras automóveis dizem que até 2035 vão vender 85 milhões de carros autónomos por ano”, diz Price, “e alguém vai ter que fabricar pneus para todos eles”.

E provavelmente, na era em que o carro está a ser reinventado, a guerra dos pneus será ganha por quem reinventar a roda também.

ZAP

1 Comment

  1. No filme IRobot, de 2004, apareciam versões idênticas dessas rodas (agora?) reinventadas…

    Ninguém na Goodyear terá visto o filme?…

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.