PSD “permitiu elogios à violência colonial” na “sessão de revanche” do 25 de Novembro

José Sena Goulão/Lusa

O presidente do Chega, André Ventura, durante a sessão comemorativa do 25 de Novembro, na Assembleia da República.

A democracia já não serve, aos olhos de André Ventura. Para alguns, a cerimónia do 25 de novembro foi uma sessão de “pura revanche” aprovada por quem “teve pena” da chegada do 25 de Abril.

“Como dizia Jaime Neves sobre a guerra no Ultramar, era mesmo assim: ‘quando nos mandavam limpar nós limpávamos tudo‘. Já começámos, vamos continuar.”

Citando uma das figuras mais polémicas do pós-25 de Abril e atribuindo a violência contra as mulheres à imigração, André Ventura fez vários deputados abandonar o parlamento esta segunda-feira durante o seu discurso no assinalar do 25 de Novembro, celebrado na Assembleia da República pela primeira vez.

O líder do Chega “elogiou massacres da guerra colonial” com luz verde do PSD, diz no Público Ana Sá Lopes esta segunda-feira.

“‘Quando nos mandavam limpar nós limpávamos tudo’? Isto é massacrar aldeias. O Chega também quer limpar tudo, suponho que se refere à esquerda”, diz a jornalista sobre a referência de Ventura ao ex-líder do Regimento de Comandos da Amadora, uma das unidades militares que pôs fim à influência da esquerda militar radical e conduziu ao fim do PREC.

A cerimónia do 25 de novembro foi para si uma sessão de “pura revanche” em que o PSD permitiu esta “exaltação da violência colonial”.

“Os pais de muitas pessoas ali sentadas [na bancada] do PSD viviam muito bem na ditadura e tiveram pena, custou-lhes muito que chegasse o 25 de Abril e por isso é que a direita aprovou esta sessão que foi apenas uma guerra cultural (…) não tem nada de história“, disse ainda a redatora-principal do jornal.

O PSD “deu palco” a Ventura e aval para “enfiar toda a agenda” do Chega no seu discurso, diz Helena Pereira: a luta contra a ditadura que virou luta contra a corrupção e a ameaça soviética que virou a ameaça da imigração aos olhos de Ventura, a quem “a democracia já não serve”, disse também o líder.

“A nossa democracia está em mudança permanente, sem medo, porque o povo português não se revê em cerimónias artificiais que já nada lhes dizem nem lhes assombra”, disse Ventura pouco depois de sublinhar a importância de “não esquecer” o 25 de Abril.

ZAP //

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