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A velocidade alcançada pelo avião hipersónico foi suficiente para perseguir a sombra de um fenómeno astronómico espetacular. Infelizmente, nem todos os dados foram processados.
A 30 de junho de 1973, um avião supersónico Concorde descolou das Ilhas Canárias, em Espanha, com uma missão que marcaria um antes e um depois na história da ciência: seguir a sombra de um eclipse solar total sobre África durante mais de uma hora.
A operação, que juntou cientistas de quatro países europeus, combinou tecnologia de ponta, cooperação internacional e observação astronómica — e não voltou a acontecer até agora.
Em pleno contexto de expansão da aviação supersónica, o voo partiu das Canárias com uma equipa científica internacional a bordo e um avião modificado que serviu como observatório aéreo.
A singularidade do momento não residia apenas no tipo de aeronave utilizada, mas na estratégia: voar a Mach 2,2 para prolongar a permanência na umbra lunar, fenómeno que desde terra só pode observar-se alguns minutos.
A localização geográfica de Espanha permitiu um alinhamento perfeito com a trajetória do eclipse, o que converteu a Grã-Canária no ponto de partida ideal.
No seu interior, o Concorde 001 foi equipado com câmaras infravermelhas e cristais de quartzo colocados na sua fuselagem para captar imagens únicas da coroa solar desde 17.000 metros de altitude. O protótipo, sem uso comercial, transformou-se num improvisado mas valioso laboratório científico.
Para la observación el Concorde debia despegar desde aeropuerto de Las Palmas de Gran Canaria cuando la sombra del eclipse aún estaba atravesando Sudamérica e interceptarla sobre Mauritania, país que había accedido a cerrar su espacio aéreo para la misión. pic.twitter.com/PndjXlyXRD
— PegasusA4 (@A4KikeLippi) April 9, 2024
Esta foi uma experiência irrepetível na história da astronomia, realça o El Confidencial.
Durante 74 minutos, sete cientistas, entre os quais o físico Don Liebenberg, observaram o eclipse desde o céu africano. “Foi como estar no meio de uma escuridão absoluta em plena luz do dia“, disse Liebenberg em 2023, numa entrevista à National Geographic.
As imagens obtidas permitiram detetar oscilações de cinco minutos na intensidade da coroa, fenómeno difícil de registar desde terra devido à distorção atmosférica.
Apesar do carácter histórico da missão, a maioria dos dados recolhidos foram armazenados em rolos de película de 35 mm que nunca foram digitalizados. A falta de recursos técnicos e económicos impediu que se completasse a análise do material, limitando o impacto científico imediato do voo.
Não obstante, o seu valor simbólico e experimental permaneceu vigente como referências para futuras investigações solares.
A missão, uma colaboração entre organismos de França, Reino Unido, Estados Unidos e Espanha, foi a primeira em que o Concorde participava ativamente num projeto científico internacional.
Mais de meio século depois deste evento, muitos dados continuam por analisar, mas a sua memória permanece intacta para quem viveu aquela missão.
O Concorde, uma aeronave extraordinária que se atrevia a olhar o Sol, simboliza uma época em que a ciência não era só rigorosa, mas também audaz e criativa — e a visão da curvatura da Terra desde uma altitude pouco habitual ficou gravada na retina dos participantes.
Para la ocasión se utilizó el Prototipo 001, modificándose el área de pasajeros donde se colocaron equipos científicos en su lugar. También se hicieron agujeros en el techo del fuselaje del Concorde e instaló ventanas especiales de observación. pic.twitter.com/CRRDgimlGc
— PegasusA4 (@A4KikeLippi) April 9, 2024