Um estudo usou saquetas de chá para medir a quantidade de carbono armazenado em zonas húmidas por todo o planeta. O resultado foi um mapa — e Portugal ajudou a construí-lo.
Uma equipa internacional de cientistas enterrou 19 000 saquetas de chá verde e rooibos em 180 zonas húmidas de 28 países para medir a capacidade das zonas húmidas de reterem carbono no seu solo, o que se designa por sequestro de carbono nas zonas húmidas, explica a Phys.
Usar chá pode parecer estranho, mas é um método cientificamente comprovado para medir a libertação de carbono do solo para a atmosfera.
O estudo, do qual Portugal fez parte, com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, foi publicado no dia 25 de novembro na Environmental Science & Technology e contou com a participação de 110 coautores (alguns portugueses).
“Este é o primeiro estudo de longo prazo deste tipo, utilizando este método de sacos de chá, que ajudará a orientar a forma como podemos maximizar o armazenamento de carbono nas zonas húmidas e ajudar a reduzir as emissões a nível mundial”, disse Trevathan-Tackett, cientista da RMIT.
“As alterações nos sumidouros de carbono podem influenciar significativamente o aquecimento global — menos carbono decomposto significa mais carbono armazenado e menos carbono na atmosfera”, conclui.
Em cada um dos locais estudados, os cientistas enterraram entre 40 e 80 saquetas de chá a cerca de 15 cm de profundidade e recolheram-nos em vários intervalos de tempo ao longo de três anos, marcando a sua localização por GPS. Em seguida, mediram a massa orgânica remanescente para avaliar a quantidade de carbono preservada nas zonas húmidas.
O projeto utilizou os dois tipos de chá (verde e rooibos) como medidas para os diferentes tipos de matéria orgânica presentes nos solos.
O chá verde é composto por matéria orgânica que se decompõe facilmente, enquanto o rooibos se decompõe mais lentamente. A utilização dos dois tipos de saquetas de chá neste projeto permitiu aos investigadores obter uma imagem mais completa da capacidade de armazenamento de carbono das zonas húmidas.
“Estes dados mostram-nos como podemos maximizar o armazenamento de carbono nas zonas húmidas a nível mundial”, diz Trevathan-Tackett.
Três anos depois, a equipa analisou então o efeito da temperatura de duas formas: através de dados de estações meteorológicas locais para cada local e comparando as diferenças entre regiões climáticas.
“De um modo geral, as temperaturas mais elevadas conduziram a um aumento da decomposição da matéria orgânica, o que se traduz numa redução da preservação do carbono no solo”, afirmou Trevathan-Tackett.
Mas houve diferenças entre os dois tipo de chá: “para o chá rooibos, mais difícil de degradar, não importava onde estava — uma temperatura mais alta levava sempre a uma maior decomposição, o que indica que os tipos de carbono que normalmente esperávamos ver durar mais tempo no solo eram vulneráveis a temperaturas mais altas”, explica a investigadora.
No caso do chá verde, a decomposição era mais rápida nas zonas húmidas de água doce e mais lento nas zonas húmidas de mangais e ervas marinhas.
“O aumento das temperaturas também pode ajudar a aumentar a produção e o armazenamento de carbono nas plantas, o que poderia ajudar a compensar as perdas de carbono nas zonas húmidas devido ao clima mais quente, mas isto merece uma investigação mais aprofundada com estudos futuros”, explica a coautora.
As descobertas ajudam a montar um mapa cada vez mais completo do sequestro de carbono em zonas húmidas.
As zonas húmidas de água doce (a vermelho no mapa) e os pântanos de maré (a rosa no mapa — há um em Portugal) apresentaram a maior massa de chá remanescente, o que indica um maior potencial de armazenamento de carbono nestes ecossistemas.
“Agora que estamos a começar a compreender melhor quais os ambientes que armazenam mais carbono do que outros, podemos utilizar esta informação para garantir a proteção destas áreas contra alterações ambientais ou de utilização dos solos”, conclui Ika Djukic, investigadora do Instituto Federal Suíço