Futuro incerto para mais de uma centena de trabalhadores, na maioria mulheres. Faltam ainda pagar 13 dias de outubro e indemnizações. “Foi um balde de água fria em cima”.
A CMG Cerâmicas, fábrica instalada em Torres Novas (Santarém), avançou com um processo de despedimento coletivo de 106 trabalhadores, indicou esta sexta-feira o sindicato representativo, criticando o desfecho que penaliza os funcionários, que perdem o emprego e saem sem indemnizações.
Em declarações à Lusa, António Amaro Costa, do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Cerâmica, Cimentos e Similares, Construção, Madeiras, Mármores, Cortiças do Sul e Regiões Autónomas (STCCMCS\CGTP-IN), disse que até agora as trabalhadoras apenas receberam o salário de setembro, faltando pagar 13 dias de outubro e as indemnizações.
“De manhã foram feitas as transferências, a seguir ao almoço os trabalhadores tinham o salário de setembro. Foi pago no dia 13 de outubro. Nada mais, neste momento nada mais foi pago. Nem indemnizações, nada. A empresa garante que os 13 dias trabalhados em outubro vão ser pagos. O restante, e do conhecimento que tenho do que há, não vai haver dinheiro para pagar as indemnizações”, afirmou.
“Total negligência” e “gestão danosa”, diz sindicato
O STCCMCS\CGTP-IN já acusou a administração da CMG – Cerâmicas de “total negligência” e de “gestão danosa”.
“O patronato conduziu a empresa a uma situação de insolvência, de dívidas em cima de dívidas e a um futuro incerto para mais de uma centena de trabalhadores, na maioria mulheres” do concelho de Torres Novas, lê-se numa nota do sindicato.
À Lusa, António Amaro Costa lembrou que o processo “começou o ano passado, em dezembro, com o Plano Especial de Revitalização”, depois de meses de salários em atraso, mas que “em junho foi declarada a insolvência” da empresa.
“Fomos sempre tentando, havia a palavra que tinha pernas para andar. Fomos sempre tentando o diálogo e os trabalhadores também foram sempre compreendendo a situação da empresa, mas […] no dia 13, a notícia que foi dada, e da forma que foi dada, foi um balde de água fria em cima, com o despedimento de 106 pessoas”, indicou.
O dirigente sindical salientou ainda que “há muitos trabalhadores que têm 30, e mais anos, de empresa e que, neste momento, podem sair sem nada, para já, embora se possam acionar alguns mecanismos, como o fundo de garantia salarial, e tentar reclamar a antiguidade dos trabalhadores”. Ainda segundo António Amaro Costa, na empresa mantêm-se “cerca de 50 trabalhadores, para terminar encomendas”.
“Pelo menos foi o que foi transmitido. Agora não sei se estão a vir novas encomendas ou não, neste momento não sei”, acrescentou, alertando que um despedimento coletivo será “um caso social grave e preocupante na zona de Torres Novas”. As comissões concelhias de Torres Novas do BE e do PCP já manifestaram, em comunicado, solidariedade e preocupação com o despedimento coletivo de 106 trabalhadores.
Partidos de esquerda reclamam “justiça social”
Em comunicado, o Partido Comunista Português (PCP) expressou “profunda solidariedade aos trabalhadores da CMG – Cerâmicas, particularmente com os 106 trabalhadores cuja intenção de despedimento foi anunciada, em consequência da declaração de insolvência da empresa”, exigindo que “sejam respeitados os direitos dos trabalhadores e garantido o pagamento do que lhes é devido”.
Também numa nota, o Bloco de Esquerda (BE) repudiou “esta gestão das relações laborais e humanas em que as/os trabalhadoras/es são abandonadas/os à sua sorte, depois de anos de salários insuficientes, condições de trabalho adversas e consequentes doenças laborais”.
Na nota, o BE reclamou “justiça social” e o “pagamento de salários em atraso e a segurança mínima no acesso ao subsídio de desemprego”. Contactada pela Lusa, a administração da CMG – Cerâmicas optou para “não prestar declarações nesta fase”.
// Lusa