Os benefícios para a saúda do ioga são amplamente reconhecidos, mas o seu efeito “detox” é altamente debatível e cientificamente infundado.
O ioga teve origem na Índia e divide-se em várias correntes, embora todas elas combinem posturas, técnicas de respiração e de meditação. A palavra está ligada às práticas meditativas e costuma ser associada a uma forma de exercício — tanto para o corpo, como para a mente.
Pelo facto de ser acessível a homens e mulheres, crianças e idosos, o ioga ganhou uma enorme popularidade na cultura ocidental.
Os benefícios do ioga para a saúde são vários e muitos deles estão cientificamente comprovados. Controlo do stress, ansiedade e dores no corpo e na coluna são algumas das suas benesses. Além disso, ajuda a melhorar o equilíbrio e promove a sensação de bem-estar e boa disposição.
Há, no entanto, um benefício atribuído à prática do ioga que é altamente contestado: a “desintoxicação” ou detox, em inglês.
Através de uma rápida pesquisa no Google das palavras “detox” e “ioga” encontramos quase 40 milhões de resultados. Existe até uma corrente do ioga especialmente dedicada à desintoxicação.
Alguns sites na internet garantem que esta modalidade, baseada em torções, principalmente da região abdominal, ajuda a libertar toxinas do corpo. Serão estas alegações cientificamente corretas? O site Yoga Journal abordou este assunto e responde à pergunta com alguma reticência: “Não sabemos”.
“Às vezes os instrutores de ioga mencionam que torções ou outras poses podem ser úteis [para a desintoxicação], mas não há base científica nisso”, diz Herpreet Thind, investigadora da UMass Lowell que estuda os benefícios da atividade física e do ioga para prevenção e tratamento de doenças crónicas.
A ideia de que as poses de torção no ioga – como Ardha Matsyendrasana, ou “senhor dos peixes” – podem desintoxicar o corpo foi popularizada por B.K.S. Iyengar, um dos mais respeitados professores de ioga do mundo.
De acordo com Iyengar, durante a torção, os órgãos abdominais são comprimidos, o que empurra o sangue cheio de toxinas. Quando liberta a torção, o sangue oxigenado fresco flui para os órgãos, o que ajuda na cicatrização e limpeza dos tecidos.
Essencialmente, Iyengar comparou o que acontece dentro do seu corpo durante uma torção com a água suja a ser espremida de uma esponja para dar espaço à água limpa.
Thind realça que, embora a teoria de Iyengar pareça plausível, não há evidências científicas que o sugiram.
“Essas poses têm alguns benefícios”, explica Thind, referindo-se à flexibilidade muscular. “Mas podem não estar a beneficiar o corpo do jeito que estão a ser descritas pelo instrutor de ioga. Não sabemos se torções ou inversões estão realmente a estimular os nossos órgãos”.
Jonathan Cane, fisiologista do exercício, partilha do ceticismo de Thind e vai mais longe nas suas declarações.
“Acho que já passamos da hipérbole”, atira Cane, citado pela Discover Magazine. “Há algumas camadas de disparate, para ser perfeitamente honesto”.
“Talvez a torção mexa com a sua cavidade abdominal de tal forma que comprime o seu fígado. Mas e daí?”, pergunta Cane. “Não há nada que eu saiba que diga que um fígado com maior fluxo sanguíneo é um órgão desintoxicador mais eficaz; que ele faz melhor o seu trabalho”.