Os aliados de Boris Johnson estão a preparar uma conferência onde pretendem apresentar o ex-primeiro-ministro como o rosto da salvação dos Conservadores, que se preparam para uma derrota nas eleições locais.
Na política, o tempo é muitas vezes bom conselheiro e cria uma nostalgia na população por certas figuras. Boris Johnson pode ser um exemplo disso — durante meses, o ex-primeiro-ministro enfrentou inúmeros apelos à sua demissão devido aos sucessivos escândalos em que se envolveu, mas a sua influência continua a pairar em Westminster nove meses depois da sua saída de Downing Street.
A recente audição parlamentar sobre se o ex-primeiro-ministro mentiu à Câmara dos Comuns sobre ter conhecimento de que as festas em Downing Street durante violavam as regras do confinamento — algo que Boris nega — voltou a trazê-lo às notícias.
Mas o antigo líder do Governo tem encarado a situação de ânimo leve, tendo até recentemente brincado com a multa que recebeu da Polícia Metropolitana por ter quebrado as mesmas leis que o seu Governo impôs.
“A Met multou-me, em circunstâncias que continuo a achar quase demasiado dolorosas para descrever, simplesmente por estar na minha secretária a comer o almoço”, referiu recentemente numa conferência na Nigéria, descrevendo a situação como “bizarra“.
A verdade é que a investigação parlamentar pode até levar à suspensão de Boris Johnson. O grupo de deputados responsáveis irá apresentar um relatório final com o veredito, e caso o ex-primeiro-ministro seja suspenso durante mais de 10 dias, pode mesmo acabar por perder o mandato como deputado.
No entanto, qualquer sanção solicitada pelo comité teria que ser aprovada em votação na Câmara dos Comuns, o que poderia causar mais um cisma dentro do Partido Conservador com muito drama político à mistura.
Regresso de Boris?
A situação do partygate não é o único caso que tem deixado a Boris Johnson nas notícias. O ex-primeiro-ministro continua a ser uma voz influente sobre o Brexit e sobre a guerra na Ucrânia desde que saiu de Downing Street e também já atirou algumas farpas ao seu ex-delfim e sucessor, Rishi Sunak.
Após a passagem curta e desastrosa de Liz Truss pela chefia do Governo, e com a contestação social e onda de greves que está a marcar o mandato de Sunak e a manchar ainda mais a imagem dos Tories com o eleitorado, há agora relatos de que Boris pode “retomar o controlo” e “salvar” o Partido Conservador.
De acordo com o The Telegraph, a Organização Democrática Conservadora, um grupo de apoiantes de Boris criado após a sua saída de Downing Street, está a agendar a sua conferência inaugural para Maio, onde o principal tema de discussão será o possível regresso do ex-primeiro-ministro.
Já se sabe que Jacob Rees-Mogg, Nadine Dorries e Priti Patel — três ex-membros do Governo de Boris Johnson e seus apoiantes de peso — vão discursar na conferência. O próprio Boris Johnson, no entanto, não marcará presença.
Rees-Moog defendeu publicamente recentemente que o partido fosse “adulto”, se acalmasse e vivesse “com o líder que tem”, mas parece estar a planear nos bastidores um apoio ao velho amigo.
O timing do evento também não parece ser uma coincidência, visto que terá lugar poucos dias depois das eleições locais, onde se espera que os Conservadores sofram uma pesada derrota e percam mais de 1000 lugares.
A conferência pretende assim aproveitar este muito provável mau resultado para atacar a liderança de Sunak e mostrar Boris como a melhor alternativa para unificar o partido e levá-lo de volta às vitórias.
No seu site, o grupo promete “devolver o controlo” às bases do partido e defende uma reforma no método de eleição do líder, que passaria a ser escolhido directamente, não havendo a necessidade de uma Convenção Nacional.
Alguns deputados leais a Johnson continuam confiantes no seu regresso depois de o Partido Conservador levar uma “tareia” nas eleições locais.
Uma fonte conservadora sénior revela ao The Guardian que os deputados foram abordados por pessoas ainda próximas ao ex-primeiro-ministro para “conversas informais sobre o futuro” – mas que estas nunca se concretizaram.
Apesar do entusiasmo em torno da conferência, há algum desânimo. “A luta acabou para a maioria das pessoas. Não há muita coordenação”, acrescenta.
Vários parlamentares que faziam parte dos cerca de 100 que apoiaram a tentativa de Boris de se candidatar novamente a líder Conservador em Outubro disseram também acreditar que o clamor pelo seu retorno está a diminuir.
“Estamos a chegar perto das eleições gerais. Ficamos sem tempo para as travessuras de Boris”, afirma uma fonte.