O vulcão mais ativo da Antártida cospe ouro todos os dias

Uma equipa de geólogos documentou um fenómeno geológico de enorme singularidade no Monte Erebus, situado na remota Ilha de Ross: as suas emissões vulcânicas contêm partículas microscópicas de ouro.

O vulcão, que mantém há mais de cinco décadas um lago de lava, expele partículas microscópicas de ouro. No total, cerca de 80 gramas por dia, se pudessem ser recolhidas.

Com uma altitude de 3.794 metros, não é apenas o vulcão ativo mais meridional do mundo, mas também um dos poucos que conseguiu manter um lago de lava permanente há mais de cinco décadas.

A análise das emissões do vulcão permitiu estimar, há mais de 30 anos, que o vulcão poderia libertar até 80 gramas de ouro por dia, o que equivaleria, à cotação da grama de ouro à hora desta edição, a cerca de 7.600 euros.

Segundo o El Confidencial, embora o seu tamanho impeça qualquer exploração económica, o fenómeno despertou um enorme interesse entre os investigadores pela sua raridade e pelas possíveis implicações no estudo da dinâmica vulcânica em condições extremas.

As minúsculas partículas metálicas não permanecem apenas nas imediações da cratera.

Foram detetados vestígios deste pó dourado a mais de 1.000 km do vulcão, transportados pelos ventos do continente branco. Esta dispersão permitiu constatar a magnitude do fenómeno e abrir novas linhas de investigação sobre a distribuição de metais na atmosfera polar.

Além do seu valor científico, o Monte Erebus foi testemunha de uma das maiores tragédias aéreas da história recente. Em 28 de novembro de 1979, o voo 901 da Air New Zealand colidiu com as suas encostas, causando a morte de 257 pessoas.

Investigações posteriores apontaram um fenómeno de whiteout como a principal causa do acidente, ao impedir que os pilotos distinguissem o relevo nevado do céu nublado.

O aquecimento global e o degelo progressivo estão a alterar o equilíbrio da pressão nas câmaras magmáticas subglaciares.

Alguns especialistas sugerem que estas alterações podem intensificar a atividade vulcânica em regiões como a Antártida Ocidental, desencadeando uma série de consequências ambientais de grande alcance.

Este cenário, longe de ser meramente hipotético, preocupa a comunidade científica pelo seu potencial para acelerar o recuo do gelo e, com isso, o aumento do nível do mar. Os vulcões antárticos, até agora considerados estáveis, podem tornar-se agentes ativos das alterações climáticas globais.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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