Vírus comum da família dos herpes pode estar a causar Alzheimer

Novo estudo liga o citomegalovírus, um tipo de herpesvírus intestinal, ao Alzheimer.  Investigadores acreditam ter encontrado “um subtipo biologicamente único” da doença.

Uma infeção viral crónica comum causada pelo citomegalovírus (CMV), um tipo de herpesvírus, pode estar a contribuir para o desenvolvimento da doença de Alzheimer, segundo um estudo publicado em dezembro na revista Alzheimer’s & Dementia: The Journal of the Alzheimer’s Association.

A infeção intestinal afeta a maioria das pessoas durante a infância e permanece adormecido no corpo durante toda a vida. Aos 80 anos, nove em cada 10 pessoas têm anticorpos contra o CMV detetáveis no sangue, o que indica uma infeção anterior. O vírus propaga-se através de fluidos corporais, como a saliva, o sangue e o leite materno, mas só causa sintomas quando está ativo.

Agora, investigadores da Universidade de Arizona descobriram que, em alguns indivíduos, o CMV permanece ativo durante tempo suficiente para viajar através do eixo intestino-cérebro através do nervo vago, uma importante via que liga o sistema digestivo ao cérebro.

Ao chegar ao cérebro, o vírus pode ativar o sistema imunitário, desencadeando uma inflamação que pode contribuir para o aparecimento da doença de Alzheimer, dizem os investigadores.

Tratamentos antivirais podem, no entanto, prevenir a doença de Alzheimer nas pessoas afetadas pela infeção crónica por CMV, desde que o vírus possa ser detetado precocemente, sugerem os resultados.

A mesma equipa que encontrou esta ligação já tinha identificado, em estudo publicado em junho passado, um subtipo de doença de Alzheimer associado a um perfil biológico único, que envolve também uma maior presença de anticorpos contra o CMV, células imunitárias e vestígios virais no cérebro.

“Acreditamos ter encontrado um subtipo biologicamente único de Alzheimer que pode afetar 25 a 45% das pessoas com esta doença“, afirma o cientista biomédico e autor principal do estudo, Ben Readhead.

A equipa estudou amostras de tecido doado por 101 indivíduos, incluindo 66 com Alzheimer, segundo comunicado da Universidade norte-americana. A análise revelou vestígios de anticorpos contra o CMV e do próprio vírus no cérebro, no líquido cefalorraquidiano e nos intestinos das pessoas com Alzheimer. Em modelos laboratoriais, o vírus estimulou a produção das proteínas amiloide e tau associadas ao Alzheimer, o que contribuiu para os danos e a degeneração neuronal.

Apesar de tudo, os autores sublinham que apenas um pequeno subconjunto de indivíduos com infeção crónica por CMV apresenta estes efeitos nocivos. A presença do CMV, por si só, não é suficiente para causar a doença de Alzheimer, mas pode desempenhar um papel fundamental no seu desenvolvimento em determinadas pessoas.

O próximo passo consiste na criação de um teste sanguíneo para detetar infeções por CMV no intestino.

Tomás Guimarães, ZAP //

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