A vírgula decimal é 150 anos mais velha do que pensávamos

(dr) Van Brummelen, Hist. Matemática, 2024

Decimais numa tabela de trigonometria em “Tabulae primi mobilis B” de Bianchini, escrito no século XV

Um historiador matemático da Trinity Wester University, no Canadá, descobriu o uso de uma vírgula decimal por um comerciante veneziano 150 anos antes do seu primeiro registo conhecido.

Foi no ano de 1593 que o matemático Christopher Clavius ​​deixou uma pequena marca que acabaria por mudar a matemática para sempre.

Numa tabela de senos, no seu tratado sobre o astrolábio – Astrolabium –, indicou o fracionamento de um número inteiro escrevendo aquilo que, mais tarde, viria a ser considerado o primeiro uso da vírgula decimal.

Contudo, segundo uma nova investigação levada a cabo pelo historiador Glen Van Brummelen, da Trinity Western University, esta não foi mesmo a primeira vez.

Segundo o Science Alert, após analisar vários documentos históricos, Van Brummelen encontrou um exemplo do uso da vírgula decimal 150 anos antes do seu primeiro registo conhecido.

Tudo aconteceu em 1440, quando um jovem comerciante italiano, chamado Giovanni Bianchini, escreveu vários trabalhos de Astronomia que faziam um uso extensivo de casas decimais.

De acordo com o historiador, é muito provável que o comerciante tivesse formação em aritmética e álgebra. Em algum momento da década de 1430, foi contratado pela House of Este como administrador da propriedade e foi precisamente nessa função que escreveu os seus documentos astronómicos.

Na altura, na Europa, a astronomia era realizada através da aritmética sexagesimal, um sistema que usa o número 60 como base, da mesma forma que o nosso sistema decimal moderno se baseia em unidades de 10.

Foi no seu documento sobre funções trigonométricas, Tabulae primi mobilis B, que Bianchini deixou a sua marca: ao descrever o uso da interpolação para encontrar o seno e o cosseno de um arco, escreve o número 10,4 e explica que, ao multiplicá-lo por 8, dá 83.

O resultado de 10,4 vezes 8 é 83,2, mas o trabalho de Bianchini revela que ele não só usa a vírgula decimal, como a entende, da mesma forma que nós a usamos e a entendemos atualmente.

Van Brummelen argumenta que é muito provável que Clavius ​​conhecesse o trabalho de Bianchini, um estudioso e respeitado no âmbito da Astronomia.

“Ele reconheceu a utilidade da notação fracionária decimal no contexto de interpolação dentro de uma tabela numérica, mas não foi ideia dele nem investiu um esforço significativo para explorar o uso da notação de forma mais completa”, escreveu.

O artigo científico foi publicado, este mês, na Historia Mathematica.

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