Novo referendo prevê ainda um acordo escrito com os pais para proibir crianças até 15 anos de terem smartphones.
Se estivesse a ler este artigo nas ruas da pequena vila de Seine-Port, localizada na na região administrativa da Ilha de França, talvez fosse travado pelos locais.
A aldeia a sul de Paris, com uma população de menos de 2000 pessoas, votou recentemente a favor um referendo para restringir o uso de smartphones em público, com o objetivo de impedir que adultos e crianças façam “scroll” — aquele movimento que repetimos incessantemente com o dedo, de cima para baixo, no nosso smartphone — em parques, cafés, lojas, restaurantes ou enquanto esperam, por exemplo, que o filho saia da escola.
“Quero preservar os espaços públicos da invasão dos smartphones“, disse o presidente da Câmara Vincent Paul-Petit, citado pelo The Guardian. “Isto é sobre o elemento viciante dos smartphones, seja em jogos ou redes sociais, quando já não conseguimos tirar os olhos dos ecrãs”, explicou.
Cerca de 20% do eleitorado (277 pessoas) votou a nova implementação, das quais 54% se mostraram a favor de regras que também incluem a proibição, a visar as crianças, do uso de qualquer tipo de ecrãs durante a manhã, nos quartos, antes de dormir ou durante refeições.
Um acordo escrito sugerido pela autarquia, se assinado pelos pais, proíbe-os de dar um smartphone aos seus filhos antes dos 15 anos de idade, com a Câmara a oferecer um aparelho eletrónico mais antigo, com apenas uma função: chamadas.
“Eu sou totalmente a favor disto,” disse uma local de 34 anos, mãe de dois filhos, ao jornal britânico. “Alguns dizem que é um ataque às liberdades, mas não penso assim. Trata-se de sensibilizar para o impacto dos telemóveis nas nossas vidas.”
“É uma ideia interessante para as crianças,” disse a dona de um bar da pequena vila. “Mas a geração mais jovem não aprova isto porque se lhes tirares o telemóvel, eles não têm nada. Eles cresceram com um telemóvel na mão, não como a nossa geração.”
Já os jovens locais estão a ter a reação esperada: descontentamento. Dizem que pouco há para se entreterem além dos telemóveis — apesar das promessas do presidente da vila para a criação de um novo clube de filme, troca de livros e novas instalações desportivas.
“Não há muito para fazer — se banirem os telemóveis, têm de fazer estruturas para promover o lazer dos jovens”, confessou um estudante de 21 anos ao jornal.
Outro local de 17 anos reforça que “os smartphones são uma parte importante das nossas vidas e acho que não é possível restringir o seu uso nas ruas”.
Um decreto municipal sobre o uso de smartphones será agora apresentado pelo republicano Paul-Petit, uma forma de incentivo para travar o viciante “scrolling”.
No entanto, a nova política parece chegar mais sob a forma de aviso do que propriamente por lei: fica ao encargo dos cidadãos encorajar as pessoas a pousarem os seus telemóveis, em vez da polícia em si.