Quem será o vice-presidente de Kamala Harris? Há 5 finalistas

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Gace Skidmore / Flickr

A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris

Tim Walz, Josh Shapiro, Pete Buttigieg, Andy Beshear e Mark Kelly são dados como os cinco nomes em cima da mesa para ser o número dois de Kamala.

Tendo ela própria sido a número dois de Joe Biden, Kamala Harris não fará a escolha para o seu próprio vice-presidente de ânimo leve. De acordo com fontes ouvidas pela CBS, a candidata Democrata está a ponderar entre cinco candidatos finalistas.

Tradicionalmente, os vices-presidentes nos Estados Unidos são escolhidos tendo em conta a sua proximidade aos estados decisivos e a sua capacidade de atrair uma faixa do eleitorado que prometa ser mais difícil de conquistar para o Presidente. Esses argumentos são notórios na primeira triagem de Kamala, que é dominada por Governadores de estados do rust belt, a região industrializada no interior do país que decidiu as eleições de 2016 e 2020.

Outro facto notável que todos os candidatos têm em comum é serem homens brancos. Tendo em conta a relevância que as questões identitárias têm na política americana, Kamala, sendo um mulher negra, deverá optar por um homem branco para equilibrar o bilhete e não alienar o eleitorado que acha que uma candidatura com duas mulheres ou dois candidatos não-brancos é demasiado “woke” — o que, à partida, deixa de fora nomes como a Governadora do Michigan Gretchen Whitmer.

Josh Shapiro

O candidato que parece estar na dianteira é Josh Shapiro, o Governador da Pensilvânia — um estado que Donald Trump “roubou” aos Democratas em 2016 com uma diferença de menos de 1% dos votos e que Biden recuperou em 2020 por apenas 1,17 pontos.

Pouco depois de ter sido eleito em 2022, Shapiro esteve nas manchetes nacionais devido à sua resposta rápida ao colapso de uma ponte numa auto-estrada fundamental para a economia da Pensilvânia, sendo a sua eficiência uma credencial a juntar ao seu currículo.

Por outro lado, as políticas educativas de Shapiro arriscam custar-lhe apoio. O Governador apoiou uma proposta Republicana para dar vouchers para escolas privadas no valor de 100 milhões de dólares, uma medida vista por muitos como um ataque à escola pública. Em Julho, dezenas de grupos pró-escolas públicas enviaram uma carta a Harris a criticar Shapiro e a apelar que optasse por alguém “totalmente comprometido com o sistema de educação pública da nossa nação”.

A maior espinha que poderá fazer Harris reconsiderar é o facto de Shapiro ser um dos maiores defensores de Israel. Em 2021, depois de a marca de gelados Ben & Jerry’s ter recusado vender os seus produtos nos colonatos israelitas ilegais, Shapiro — que era então procurador-geral da Pensilvânia — ameaçou avançar com um processo por discriminação contra as empresas que boicotarem Israel.

Mais recentemente, Shapiro comparou os protestos universitários pró-Palestina a manifestações do Ku Klux Klan e a “supremacistas brancos acampados e a gritar insultos racistas”. Ao contrário de Harris, Shapiro é também contra um cessar-fogo na Faixa de Gaza.

A aposta do Governador da Pensilvânia poderá assim sair cara aos Democratas, especificamente com o voto muçulmano e jovem, o que pode revelar-se particularmente crítico no Michigan, um estado decisivo onde vivem muitos árabes e onde Biden já caiu na desgraça devido ao seu apoio inabalável a Israel.

Tim Walz

Caso Kamala Harris pretenda reforçar as suas credenciais com o eleitorado mais progressista, o nome mais evidente é Tim Walz, o Governador do Minnesota. Apesar de o Minnesota não ser um estado em risco de cair para os Republicanos, a persona de Walz enquanto homem trabalhador de uma pequena vila pode ser um trunfo valioso nos estados vizinhos, como o Wisconsin.

Com uma maioria de apenas um assento no Minnesota, Walz conseguiu aprovar medidas bastante populares, como refeições escolares gratuitas para todos, cortes de impostos para a classe trabalhadora, 12 semanas pagas de licença parental, cursos gratuitos nas universidades públicas ou o registo automático dos eleitores. A sua capacidade de passar todas estas medidas com uma maioria tão magra também demonstra habilidades diplomáticas que podem ser uma mais-valia para Harris.

Este historial de Walz também pode ser uma mais-valia para captar o eleitorado independente mais progressista e adjacente a nomes como Bernie Sanders ou a congressista Alexandria Ocasio-Cortez. Do outro lado da moeda, o risco desta aposta está na possibilidade de alienar os eleitores mais centristas.

Walz foi também o cérebro do novo slogan favorito dos Democratas: descrever Trump e JD Vance como estranhos. A estratégia parece ter levantado voo, sendo usada por vários nomes influentes do partido, incluindo a própria Kamala Harris, e pode ser um sinal de que Walz tem um humor afiado e será uma boa escolha para o confronto direto com JD Vance nos debates.

Mark Kelly

Mark Kelly é outro dos corredores, podendo dar um impulso importante a Kamala Harris no Arizona, o estado que representa no Senado. Apesar de ser pouco experiente na política, Kelly tem um currículo que daria um ar mais “fixe” e refrescante à campanha de Harris, tendo sido um piloto de combate da marinha e um astronauta que passou mais de 50 dias no Espaço em missões da NASA.

Kelly pode tambérm ser um trunfo num dos temas que promete dominar a campanha: a imigração. Dado representar um estado encostado ao México, Kelly está familiarizado com a crise na fronteira e, ao contrário de muitos Democratas que criticam a muralha de Trump, o ex-astronauta parece apoiar a ideia e até pressionou Biden para ajudar a fechar as lacunas no muro no setor de Yuma, no Arizona.

O Senador também criticou duramente a decisão “burra” de Biden, que em 2022  suspendeu uma política da era da pandemia que permitia às autoridades rejeitar os requerentes de asilo tendo por base as preocupações sanitárias.

Kelly é ainda casado com Gabby Giffords, uma ex-congressista que levou um tiro na cabeça em 2011 e que se tornou uma das principais vozes no apoio a restrições às leis das armas. A história pessoal de Giffords pode cativar os eleitores preocupados com a violência armada.

De um lado mais negativo, Kelly foi um dos poucos Democratas que se opôs ao PRO Act e foi crucial para o seu chumbo no Senado. O PRO Act é um mega-pacote legislativo de expansão ao poder dos sindicatos e foi até descrito como a maior reforma laboral nos Estados Unidos desde a Grande Depressão. A oposição de Kelly gerou enormes críticas das organizações sindicais e pode deixar Kamala reticente.

Pete Buttigieg

Pete Buttigieg já será conhecido de Kamala Harris nos corredores da Casa Branca, enquanto Secretário dos Transportes de Joe Biden. Desde lá, afirmou-se como um dos melhores comunicadores da admnistração Biden.

Durante o seu mandato, supervisionou várias crises nos Transportes, como o descarrilamento de um comboio em East Palestine, no Ohio, o colapso da ponte de Baltimore ou a crise de agendamento da Southwest Airlines em 2022.

A prestação de Buttigieg não foi imune de polémicas, com muitas críticas à sua demora na visita a East Palestine e na gestão dos problemas enfrentados pelo sector da aviação dos EUA.

Com apenas 42 anos e abertamente homossexual, Buttigieg também ofereceria um perfil diferente à campanha de Harris em comparação com os restantes candidatos.

Andy Beshear

O Governador do Kentucky Andy Beshear destaca-se por ter conseguido construir uma carreira de sucesso como Democrata num estado fortemente Republicano, o que é particularmente notável dado defender algumas políticas mais progressistas.

Beshear é um defensor do acesso ao aborto e tem algumas credenciais no campo da reforma judicial, sendo o Governador em toda a história dos Estados Unidos que mais restaurou o direito ao voto para os condenados por crimes não violentos, com mais de 180 mil pessoas no Kentucky a poder voltar a votar sob a sua alçada.

O Governador considera ainda que a posse de canábis nunca deve resultar na prisãoe que é “absurdo e claramente injusto” que esta droga seja considerada tão perigosa como a heroína e o fentanil.

Beshear também já saiu ao ataque contra JD Vance numa série de entrevistas onde questionou as suas raízes na região dos Apalaches relatadas na sua biografia.
Ele não é daqui. Este é um tipo que costumava vir algumas semanas por Verão, na melhor das hipóteses, para Kentucky e depois escreveu um livro a dizer que nos conhecia. Ele chamou o meu povo de preguiçoso, e estes são os mineiros de carvão que construíram este país”, remata.

Adriana Peixoto, ZAP //

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