Cada vez menos pessoas pedem ajuda à Cáritas pela 1.ª vez

O presidente da Cáritas Portuguesa afirmou que já não estão a aparecer “fluxos muito grandes” de pessoas que pedem ajuda à instituição pela primeira vez, mas alertou que quem caiu na pobreza está “cada vez mais pobre”.

Nos últimos anos, a organização da Igreja Católica registou um aumento no número de pedidos de famílias que pediram ajuda pela primeira vez à instituição, devido à crise económica que as empurrou para uma situação de pobreza.

Em à entrevista à agência Lusa, a propósito da Semana Nacional da Cáritas, que hoje se inicia, o presidente da instituição, Eugénio Fonseca, afirmou que as pessoas continuam a pedir ajuda, mas não de forma tão intensa.

“É verdade que já não estão a aparecer aqueles fluxos muito grandes de pessoas que vêm pela primeira vez à Cáritas”, disse Eugénio Fonseca.

Questionado se esta situação se deve ao crescimento económico do país, o responsável disse que se nota “alguma melhoria”, refletida na criação de emprego, mas que “não tem resolvido o problema da pobreza”.

“O que sabemos é que as pessoas que caíram na pobreza estão cada vez mais pobres, porque a pobreza quando se torna estrutural agrava as condições de vida das pessoas”, disse Eugénio Fonseca.

Só em 2016, as vinte Cáritas Diocesanas do país apoiaram mais de cem mil pessoas no pagamento de rendas de casa, dívidas de eletricidade, gás, água, medicamentos e propinas.

Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística indicam que, em 2015, quase dois milhões de portugueses (19,5%) estavam em risco de pobreza. Para Eugénio Fonseca, este número fica aquém da realidade, considerando que será “muito mais de 20%”.

“Cada vez estou mais renitente em lidar com estes assuntos a partir de estatísticas”, que “dependem muito das fontes onde vão buscar os dados”, da altura em que os elementos são recolhidos e da leitura que se faz dos dados, explicou. Na sua opinião, a “melhor estatística” é o “testemunho de vida” que as pessoas transmitem.

Segundo o presidente da Cáritas, uma “boa parte” dos portugueses em situação de pobreza são trabalhadores por conta de outrem, o que demonstra que “o trabalho só por trabalho não liberta ninguém da pobreza”.

Alertou também para situações vividas por muitos idosos que ficaram mais pobres durante a crise, porque tiveram que dar aos filhos que ficaram desempregados as poupanças que juntaram ao longo da vida”.

“Há pais a ver penhoradas as magras reformas porque foram fiadores dos filhos“, uma questão que “o Governo devia ver”, porque não de deve “penalizar pessoas que só quiseram ajudar”.

“Família como construtora da paz” é o tema da Semana Nacional da Cáritas, durante a qual decorrerá o peditório público, entre quinta-feira e domingo.

Na passada quinta-feira, o Ministério Público instaurou um inquérito com base numa denúncia contra o presidente da Cáritas de Lisboa, depois de uma investigação do jornal Público ter revelado que a instituição tem 2,4 milhões de euros no banco e imóveis avaliados em quase 1,4 milhões de euros.

ZAP // Lusa

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