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Ventura já era contra imigrantes; agora é contra emigrantes (ilegais)

Pedro Sarmento Costa/LUSA

Presidente do Chega concorda com a deportação em massa de imigrantes nos EUA – que deve expulsar milhares de emigrantes portugueses.

Donald Trump garantiu, no seu discurso de tomada de posse, que irá expulsar “milhões e milhões” de imigrantes ilegais, um dos principais focos da sua campanha eleitoral, durante a qual prometeu levar a cabo a “maior deportação em massa da história” do país.

O novo Presidente dos EUA prometeu ainda endurecer a luta contra a entrada de imigrantes ilegais e a deportação imediata de quem tentar entrar sem cumprir os requisitos para permanecer em território dos Estados Unidos.

O presidente do Chega, André Ventura, concorda com a deportação em massa de imigrantes em situação de irregularidade – e que poderá incluir a expulsão de milhares de cidadãos portugueses.

Em Washington, onde participou nas cerimónias de tomada de posse de Donald Trump, Ventura defendeu que “países seguros têm fronteiras fortes”.

“A direita é coerente nisto: existem regras em Portugal e em toda a parte do mundo. Quem não cumpre regras tem que ser devolvido ao seu país de origem”, sublinhou o presidente do Chega em declarações à imprensa portuguesa.

“O que nós defendemos é que – também em Portugal – os que não cumprem regras devem ser devolvidos ao seu país de origem. E vejam que isto não é dito só pelo presidente do Chega ou pelo presidente do Vox. É dito agora pelo Presidente dos Estados Unidos, um país que é uma referência de liberdade e que é uma referência até de direitos humanos”, sublinhou Ventura.

“Nós temos dito também na Europa que nós precisamos de que quem não esteja legal volte para o seu país. (…) Eu acho que o que o Donald Trump disse foi que as pessoas que venham para os Estados Unidos têm que estar legais. E eu acho que essa é a mensagem certa”, defendeu Ventura.

Questionado pela Lusa sobre se essa mensagem inclui os portugueses que estão de forma irregular nos Estados Unidos, Ventura respondeu: “Todos. O que exijo para os outros é o que exijo para mim como português.”

“Os portugueses devem cumprir a lei. Estou convencido que isso não vai acontecer, porque os portugueses que tenho conhecido por todo o mundo cumprem as regras. (…) O que estou convencido é que os portugueses não serão um número significativo“, observou.

“Porém, quando digo que os imigrantes em Portugal têm de cumprir regras, todos têm de cumprir regras. Não posso dizer que quero uma regra para para paquistaneses, indianos, brasileiros, angolanos e não quero para os portugueses. Os portugueses têm de ser os primeiros a dar o exemplo. Ao irem para os EUA, Canadá, Suíça, têm de cumprir regras”, frisou André Ventura.

Ou seja, o líder do Chega já tinha mostrado que é “contra imigrantes, e agora mostrou que é contra emigrantes portugueses”, resumiu Rui Pedro Antunes, na rádio Observador – onde lembrou o caso de José Dias Fernandes, que foi expulso duas vezes de França por ser imigrante ilegal (e agora é deputado do Chega).

O Governo dos Açores está a preparar um plano de contingência para acolher emigrantes açorianos que venham a ser deportados por Donald Trump.

Masculino e feminino

O Governo federal norte-americano deve reconhecer apenas dois sexos – masculino e feminino -, de acordo com uma ordem executiva que Donald Trump deverá assinar em breve.

A ordem reverteria os esforços do Governo de Joe Biden para ampliar as designações de identidade de género.

A medida foi celebrada por André Ventura, que integrou a comitiva dos Patriotas pela Europa (extrema-direita), terceiro maior grupo político do Parlamento Europeu, que esteve presente na tomada de posse de Donald Trump.

“Eu acho que hoje o Donald Trump, ao dizer que um homem é um homem e uma mulher é uma mulher, diz o óbvio, mas diz que vai alinhar com a direita europeia. É importante dizer isto, porque a direita europeia tem feito esta luta há muito tempo (…) para que a ideologia de género seja varrida das escolas“, advogou o presidente do Chega, que admitiu não ter falado com Trump durante a deslocação a Washington.

O presidente do Chega defendeu o fim da “ideologia de género”, ao enaltecer essa ordem executiva. Ventura viu um alinhamento do magnata republicano “com a direita europeia”, que luta “para que a ideologia de género seja varrida das escolas”.

“Eu gostava de destacar duas coisas [do discurso de tomada de posse de Trump], que acho que mexeram muito com a (…) direita europeia que está cá comigo: a questão económica, uma economia livre, uma economia sem a burocracia, sem o peso que o socialismo geralmente mete na economia; e a questão da ideologia de género”, começou por dizer André Ventura aos jornalistas portugueses na capital norte-americana.

“Eu acho que o Donald Trump ter dito que há dois géneros, há o masculino e o feminino, talvez para muita gente, ou para uma parte importante da classe média trabalhadora, isto não seja um assunto relevante, mas nós hoje sabemos que há uma luta civilizacional de ideologia de género nas escolas. E acho que o Donald Trump prometeu acabar hoje [segunda-feira], claramente, desde Washington, com essa ideologia de género”, avaliou o presidente do Chega.

Apesar de concordar com várias das medidas prometidas por Trump, André Ventura garantiu que discorda do perdão concedido pelo republicano aos invasores do Capitólio, que levaram a cabo um violento ataque contra o Capitólio em 6 de janeiro de 2021 com o objetivo de travar a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden.

“Eu discordo. Tenho uma posição de discordância sobre isso. Não é uma questão de perdoar ou não. Eu acho que nós devemos interferir na justiça o menos possível”, defendeu o político português.

“Nós não temos que estar de acordo em tudo. E acho também que tem que ficar claro, porque nós europeus temos uma linha de pensamento diferente dos americanos nesta matéria, é que nós podemos concordar e discordar com a imprensa, com as instituições, com os grupos sociais”, sublinhou.

Segundo o presidente do Chega, a violência e o ataque às instituições são “o limite”.

“Para nós a democracia é mesmo sagrada. E eu acho que um Presidente deve interferir o menos possível na justiça. Agora, vamos ser francos também, o Presidente Biden perdoou o próprio filho. E, portanto, deu um péssimo sinal à justiça no mundo inteiro”, avaliou ainda.

ZAP // Lusa

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