Venezuela. “Há pobreza e fome na comunidade portuguesa”

Erik S. Lesser / EPA

Médico lusodescendente afirma que a comunidade portuguesa não conseguiu escapar às consequências da crise política, social e económica da Venezuela.

O médico lusodescendente Adérito Sousa considera que a comunidade portuguesa não escapou às consequências da crise política, social e económica que atinge toda a população venezuelana, e fala em pobreza e mesmo em fome entre os portugueses.

A situação está a ser muito crítica para todos os cidadãos que vivem no país e também para a grande comunidade portuguesa radicada que não escapou aos embates da crise. Refiro-me à hiperinflação que afeta os salários de todos os cidadãos, para além da insegurança e da conflitualidade social no país”, afirma o médico otorrinolaringologista de 61 anos, que já foi distinguido com a Ordem do Mérito.

O médico adianta que esta crise, que afeta de forma dramática todas as pessoas que desenvolvem atividades económicas, atingiu a comunidade portuguesa de “forma muito dramática” com “situações de pobreza e até de fome“.

Adérito de Sousa, que é médico cirurgião, com pós-graduações na Venezuela e nos Estados Unidos, refere que “há muitos casos de portugueses que estavam até a viver em condições de rua, porque tinham perdido os seus negócios, seja por delinquência ou por situação de alta conflitualidade ou foram saqueados e alvo de roubo”.

Como médico da Associação de Médicos Luso-Venezuelanos, Adérito de Sousa acompanha de perto as dificuldades da comunidade portuguesa. “Aí o sofrimento é a dobrar, porque já temos a situação de carência económica, se ainda sofrem de uma doença, e têm necessidade de tratamentos onerosos e de alto custo, pior ainda”, sublinha.

O médico também está preocupado com os últimos desenvolvimentos políticos no país, lembrando que quem fala de golpe está enganado, porque “a oposição não tem poder de ataque e de defesa”.

As armas estão nas mãos do Governo e o Governo tem muitas dissidências que estão escondidas e que começam a fazer o seu aparecimento”, considera.

“O que aconteceu no dia 30 de abril foi um levantamento de um grupo de militares que se dirigiu a uma base aérea e trataram de fazer uma manifestação pública para chamar a consciência dos seus colegas das Forças Armadas para se unirem e fazerem frente a este desconforto que há no país”, diz.

A presença de Juan Guaidó, o Presidente interino, nesse ato não lhe confere qualquer autoria, defende o médico. Ora, “é sabido que o autoproclamado Presidente Guaidó não tem influência sobre as Forças Armadas, ele só quis solidarizar-se com uma ação de um pequeno grupo de militares que quiseram manifestar o seu desacordo com o Governo de Nicolas Maduro”.

A mobilização diária de populares em protestos públicos contra o regime é também um sintoma “de um nível de rutura que há nos círculos mais íntimos do oficialismo liderado por Maduro”.

Sobre Nicolás Maduro, o médico considera que “está a ficar mais isolado e com desconfiança muito grande”. “Ele não deve estar a dormir tranquilamente, deve estar com a preocupação de que tem os seus dias contados”, acrescenta.

// Lusa

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