Um novo estudo mostra que algumas cobras desenvolveram o seu veneno especificamente para afastar potenciais predadores, nos quais nos incluímos nós, seres humanos.
De acordo com o site Science Alert, o estudo, levado a cabo por uma equipa internacional de cientistas, demonstra um tipo único de veneno e uma estratégia de envenenamento que evoluiu em pelo menos três ocasiões distintas.
As cobras-cuspideiras, tal como o nome indica, são conhecidas por conseguirem esguichar o seu veneno até aos olhos de um potencial predador. O resultado não é agradável. Os produtos químicos presentes no veneno atingem a córnea, causando uma dor intensa e, em caso de doses muito altas, até cegueira.
Utilizando fósseis como calibração, os investigadores usaram técnicas de datação molecular nos genomas de uma série de cobras-cuspideiras, como as Naja e as Hemachatus haemachatus, e parentes não-cuspideiros (Walterinnesia aegyptia e Aspidelaps scutatus).
Os resultados sugeriram que as cobras-cuspideiras africanas desenvolveram esse hábito entre 6,7 e 10,7 milhões de anos atrás. Os seus parentes asiáticos seguiram-lhes o exemplo, quatro milhões de anos depois.
As Hemachatus haemachatus foram mais difíceis de definir, mas supõe-se que tenham desenvolvido esta habilidade desde que se separaram de outras cobras-cuspideiras, há mais de 17 milhões de anos.
Segundo o mesmo site, uma análise dos seus venenos revelou que a sua composição tinha mais em comum do que com os de parentes que não tinham essa habilidade, com exceção da receita mais neurotóxica, da autoria da Naja philippinensis.
Os efeitos agonizantes da química do veneno também foram testados pela equipa, usando tecido vivo e amostras de nervos. “Os venenos das cobras-cuspideiras são mais eficazes em causar dor do que os das que não cospem”, disse Irina Vetter, neurofarmacologista da Universidade de Queensland, na Austrália, e uma das autoras do estudo publicado, a 22 de janeiro, na revista científica Science.
A soma destes resultados indica que as cobras-cuspideiras reaproveitam o seu veneno e as suas presas (dentes caninos) de forma independente, transformando-os em mecanismos de defesa capazes de “diminuir” grandes predadores.
E quem eram os grandes predadores em cada caso? Podemos apenas supor, mas os investigadores argumentam que existem boas razões para acreditar que os nossos ancestrais encaixam neste padrão, citando evidências de cobras que influenciaram a neurobiologia e o comportamento dos primatas.
“É intrigante pensar que os nossos ancestrais podem ter influenciado a origem desta arma química defensiva nas cobras”, disse Nick Casewell, especialista em veneno de cobras da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, e outro dos autores do estudo.