Um composto do veneno da cascavel sul-americana pode ser usado para criar um analgésico poderoso. Os testes feitos em animais foram um sucesso.
A crotoxina pode ser encontrada no veneno da cascavel sul-americana, Crotalus durissus terrificus, e pode ser o segredo para um novo analgésico poderoso para dor neuropática. Os testes realizados em animais já revelaram ser promissores, oferecendo uma boa perspetiva para uma futura aplicação em humanos.
Obviamente, o veneno da cascavel é perigoso, mas a sua toxicidade pode ser reduzida ao encapsulá-lo em pequenas partículas de sílica. Durante décadas, o potencial terapêutico da toxina tem sido estudado, desde um efeito anti-inflamatório ao seu potencial anticancerígeno.
“Estou a estudar a crotoxina desde 2011. Os resultados são positivos em termos de efeito analgésico, mas a sua toxicidade sempre foi uma restrição”, explicou a autora do estudo, Gisele Picolo. Por isso mesmo, retirar a toxicidade da crotoxina e salientar os seus potenciais terapêuticos sempre foi um desafio para os cientistas.
Foi então que a equipa de cientistas de Osvaldo Sant’Anna encontrou uma possível solução: encapsular os antigénios vacinais em pequenas partículas de sílica mesoporosa. De acordo com o New Atlas, em testes feitos com ratos, a vacina mostrou ser mais eficaz quando administrada desta forma.
Também “em testes realizados em cavalos para produzir soro anti-difteria e com toxina tetânica”, os cientistas descobriram que “a sílica torna os antigénios menos potentes e reduz o efeito adverso da toxina da difteria”, disse Osvaldo Sant’Anna.
Para além de ser muito menos tóxica, a vacina conseguiu melhores resultados anestesiantes. Isto permitiu que os cientistas administrassem doses 35% maiores de crotoxina quando esta era encapsulada nas partículas de sílica. A sensibilidade à dor, por sua vez, foi reduzida durante 48 horas com apenas uma dose.
Os resultados são entusiasmantes, mas a investigação ainda está numa fase embrionária. Por enquanto, ainda não foram realizados testes em humanos.
“A crotoxina é uma molécula grande com uma estrutura complexa que é difícil de replicar em laboratório”, explicou Gisele Picolo, no estudo publicado na revista científica Toxins.