Venda do Novo Banco “foi estranha e devia ter sido suspensa”

João Relvas / Lusa

João Salgueiro, ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos

O ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos, João Salgueiro, diz que a venda do Novo Banco “foi estranha” e violou as regras inicialmente delineadas. Salgueiro afirma ainda que a venda devia ter sido suspensa e relançada.

Numa entrevista dada esta segunda-feira ao jornal Público, João Salgueiro colocou dúvidas em relação à venda do Novo Banco ao fundo Lone Star. Apesar de o concurso lançado pelo Governo “não prever que o Estado concedesse ajudas ao comprador“, a Lone Star recebeu uma garantia de 3,9 mil milhões de euros.

João Salgueiro acredita que se o concurso tivesse seguido as regras inicialmente delineadas pelo Governo, a venda do Novo Banco teria ficado mais barata aos contribuintes. Isto porque iria atrair mais interessados e o banco seria vendido “à entidade que exigisse o menor montante de garantias”.

O antigo vice-governador do Banco de Portugal defende que o acordo de venda do ex-BES devia ter sido suspenso logo quando o fundo Lone Star exigiu ao Estado que cobrisse os prejuízos até 3,9 mil milhões de euros. Para Salgueiro, “tornou-se então flagrante que garantias tão avultadas conseguiriam uma venda em situação distinta dos objetivos inicialmente estabelecidos”.

Em vez de terminar o acordo com a Lone Star, o Governo e o Banco de Portugal formalizaram a venda do Novo Banco mais cedo do que o esperado. Citado pelo ECO, o antigo ministro das Finanças diz que “a venda foi estranha por não corresponder às regras do concurso que foi lançado”.

O banqueiro defende que, tendo em conta as circunstâncias do negócio, este devia ter sido imediatamente terminado e relançado a outros compradores.

Salgueiro criticou ainda as intromissões do Governo nos seus tempos como líder da Caixa Geral de Depósitos. “Não podemos esquecer o envolvimento da CGD no assalto ao BCP, investindo e dando créditos em larga escala a clientes acionistas para reforçarem posições. E correu mal. Mas teremos de averiguar se a decisão foi da própria CGD“.

“Quando começou a haver sintomas de intervenção governamental nas decisões de crédito da CGD, pedi para sair. E saí“, realçou João Salgueiro.

ZAP //

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