Variar as rotas migratórias ajuda as aves a sobreviver às alterações climáticas

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As aves com estratégias migratórias mais flexíveis são menos vulneráveis às alterações ambientais

Muitas espécies de aves migratórias estão em perigo de extinção como resultado do impacto da actividade humana, das alterações climáticas e da perda dos seus habitats naturais. Mas algumas espécies são mais vulneráveis a esse efeito do que outras.

Um novo estudo, conduzido por investigadores da UEA – Universidade de East Anglia, de Norwich, no Reino Unido, permitiu concluir que algumas espécies de aves migratórias conseguem adaptar-se ao impacto destas alterações.

O estudo, publicado esta terça-feira na Ecology Letters, mostra que as espécies de aves com rotas migratórias mais variadas e que passam o inverno em destinos mais diversos – como a cegonha, o busardo ou o rouxinol-grande-dos-caniços – têm menor probabilidade de entrar em declínio.

Em contrapartida, as espécies que não dispersam as suas rotas e passam a estação de inverno, invariavelmente, nos mesmos destinos – como a rola ou a felosa assobiadeira – são mais vulneráveis a registar declínios populacionais causados pelo impacto da actividade humana no ambiente.

James Gilroy, investigador da Faculdade de Ciências do Ambiente da UEA e autor principal do estudo, explica que “as aves são conhecidas pelas suas notáveis migrações, a enormes distâncias, por vezes envolvendo autênticas proezas de orientação e resistência“.

“Mas infelizmente”, diz o investigador, em nota enviada à imprensa esta terça-feira, “muitas destas espécies migratórias estão em declínio, e é urgente percebermos o que determina a sua vulnerabilidade à acção do Homem“.

“O objectivo do nosso estudo era perceber que papel teria a diversidade migratória – ou seja, a variabilidade dos hábitos migratórios – na evolução das populações de cada espécie”.

A equipa de investigadores estudou, ao longo das últimas duas décadas, os hábitos migratórios de 340 espécies de aves e a relação desses hábitos com a população dessas espécies na Europa.

“Concluímos que as espécies que se distribuem por áreas mais vastas na época de inverno são mais resilientes, enquanto que as que convergem em rotas mais reduzidas, ocupando territórios mais pequenos, tendem a entrar em decllínio”, revelou Jame Gilroy.

“Estas espécies são mais vulneráveis ao impacto de vectores como a perda de habitat e de território de caça”, acrescentou.

“As espécies que diversificam mais as suas rotas têm uma maior probabilidade de, algures pelo caminho, encontrar refúgio em zonas mais protegidas, com melhor caça, ou melhores condições de vida”, explicou.

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Os esforços de conservação da Natureza devem ser focados nas zonas de migração das aves mais vulneráveis, diz a ambientalista Aldina Franco, co-autora do estudo

A equipa descobriu também que as espécies “híbridas”, que incluemtanto indivíduos com hábitos migratórios com outros que optam por se manter na região de acasalamento todo o ano, correm ainda menos risco de declínio do que as espécies cujas populações migram na totalidade.

“O declínio global das populações de aves migratórias tem sido uma preocupação premente da comunidade científica em todo o mundo”, diz a investigadora portuguesa Aldina Franco, co-autora do estudo.

Segundo a ambientalista, também investigadora na Universidade de East Anglia, “o nosso estudo mostra que as aves com estratégias mais flexíveis são menos vulneráveis às alterações ambientais”.

“O nosso estudo pode ajudar as autoridades a encontrar formas de proteger as espécies migratórias com mais vulnerabilidades”, diz a investigadora, mestre em Matemática Aplicada às Ciências Biológicas pelo Instituto Superior de Agronomia, e doutorada na UEA.

“Por exemplo, identificar as zonas de migração das espécies com menor dispersão permite às autoridades focar os esforços de conservação da Natureza nos habitats de inverno destas espécies”, conclui a investigadora.

Na Natureza, disse Darwin, não sobrevivem as espécies mais fortes, mas as que se adaptam melhor.

E as que tiverem uma ajudinha do Homem, para variar.

AJB, ZAP

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