Os cientistas não sabem ao certo porquê, mas novos cálculos mostram que o universo está a expandir-se mais rápido do que o esperado, possivelmente em resultado de algo que apenas suspeitamos que exista – a radiação escura.
A mais recente pesquisa sobre os movimentos das estrelas descobriu que o universo está a expandir-se entre 5% e 9% mais rapidamente do que no início da sua existência, o que poderá levar a um rasgão bem a meio do Cosmos.
“Um universo engraçado ficou ainda mais engraçado”, diz Brad Tucker, investigador australiano e astrofísico da Universidade Nacional da Austrália (ANU), à Business Insider.
“Pode ser uma nova força semelhante à energia escura, ou uma nova partícula, ou pode ser que a energia escura em si mudou ao longo do tempo”, acrescenta o cientista.
“Pensávamos que estávamos perto de compreender a energia escura, mas agora sabemos que não estamos nem perto de saber a resposta. Há imenso trabalho a fazer”.
Estrelas, planetas e gás representam apenas 5% do universo – o resto é formado por 25% de matéria escura e 70% de energia escura, sendo que ambas são invisíveis e nunca foram diretamente detetadas.
Os valores precisos da expansão a partir de 13,7 mil milhões de anos atrás foram calculados a partir de observações da radiação cósmica de fundo, o brilho muito fraco do Big Bang.
A pesquisa está a ser conduzida pelo Nobel da Física Adam Riess, do Space Telescope Science Institute e da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, que em 1998 descobriu a energia escura num trabalho em rede com Brian P. Schmidt e Saul Perlmutter.
Distância duplicada e possível rasgão
O telescópio espacial Hubble foi usado para observar as estrelas variáveis, chamadas de Cefeidas, e supernovas de tipo Ia, ambos com brilho conhecido, o que permite que a sua distância seja determinada com precisão.
A equipa mediu os movimentos de cerca de 2.400 estrelas cefeidas e cerca de 300 supernovas Tipo Ia por mais de dois anos e meio. O trabalho foi referido num artigo da revista Nature em abril, quando ainda aguardava a revisão por pares, e os resultados revistos pelos pares serão publicados na próxima edição da revista The Astrophysical Journal.
A partir destas medições, os cientistas calcularam a taxa de expansão do universo, conhecida como a constante de Hubble, com o valor de 73,2 quilómetros por segundo por megaparsec (um megaparsec equivale a 3,26 milhões de anos-luz).
Este novo valor significa que a distância entre os objetos cósmicos vai duplicar nos próximos 9,8 mil milhões de anos.
A equipa tem uma série de teorias para o excesso de velocidade do universo. Uma possibilidade é que a energia escura pode estar a empurrar as galáxias para longe umas da outras com uma força crescente denominada energia escura fantasma.
Outra ideia é que o cosmos conteria uma partícula subatómica na sua história primitiva que viajou perto da velocidade da luz e afetou a taxa de expansão. Estas partículas rápidas são referidas coletivamente como radiação escura e incluem partículas já conhecidas, como os neutrinos.
O impulso na aceleração também pode significar que a matéria escura possui algumas características estranhas e inesperadas, o que pode dizer aos astrónomos que a teoria da gravidade de Einstein é incompleta.
Embora seja improvável que afete o futuro próximo da Humanidade, Tucker diz que os diferentes cenários poderiam ter sérias repercussões para o universo.
“Se a aceleração não for muito rápida, o Universo vai arrefecer enquanto expande, resultando num grande congelamento”, descreve.
“Mas se o universo não conseguir aguentar a sua própria aceleração, haverá um grande rasgão. O Universo vai literalmente rasgar-se a meio, o que seria incrível”.