Uma simples análise ao sangue poderá dizer-nos quando devemos tomar os reforços das vacinas

1

Nem todas as vacinas são criadas da mesma forma — algumas dão-nos proteção vitalícia contra as doenças após um curto período de administração, enquanto outras necessitam de um reforço regular.

Não é fácil prever qual será o cenário para uma determinada vacina, mas um novo estudo, publicado na revista Nature Immunology, poderá ter encontrado uma forma de prever a duração da imunidade a partir de uma simples análise ao sangue.

Foi graças às vacinas que a humanidade conseguiu erradicar a varíola, que continua a ser a única doença humana para a qual conseguimos atingir esse objetivo.

O rápido desenvolvimento e lançamento das vacinas contra a COVID-19 ajudou a mudar o curso da recente pandemia, e as vacinas contra a HPV já estão a diminuir radicalmente as taxas de cancro do colo do útero. Estes são apenas alguns exemplos.

Para algumas vacinas, bastam algumas doses na infância para garantir uma proteção duradoura. Para outras, como a vacina contra a gripe sazonal, é necessário atualizar a proteção todos os anos. Mas porquê?

“A questão de saber porque é que algumas vacinas induzem uma imunidade duradoura e outras não tem sido um dos grandes mistérios da ciência das vacinas“, afirmou Bali Pulendran, professor de microbiologia e imunologia.

Num esforço para encontrar algumas respostas, Pulendran e os colegas publicaram uma investigação em 2022 que definiu uma “assinatura universal” da resposta precoce dos anticorpos a várias vacinas.

Embora isso tenha sido um passo em frente na identificação de quem provavelmente produzirá a melhor resposta imunológica após ser vacinado, a próxima etapa seria tentar prever quanto tempo essa resposta imunológica pode durar.

Foi isso que a equipa fez no seu último estudo. Começaram com uma vacina contra um vírus que deverá continuar a ser um tema quente até 2025: a gripe das aves H5N1.

50 pessoas saudáveis foram inoculadas com uma vacina experimental contra a gripe das aves, com ou sem adjuvante — um ingrediente adicionado a algumas vacinas  para aumentar a resposta imunitária, mas que não induz uma reação imunitária por si só.

Durante os 100 dias que se seguiram às duas doses de vacina, foram recolhidas numerosas amostras de sangue dos voluntários para análise aprofundada.

Os cientistas identificaram uma assinatura molecular, capturada em pequenos fragmentos de ARN no interior das células plaquetárias, que estava associada à força da resposta imunitária de um individuo meses mais tarde.

“O que aprendemos foi que as plaquetas são um termómetro para o que está a acontecer com os megacariócitos na medula óssea”, disse Pulendran.

Os próprios megacariócitos têm demonstrado cada vez mais que desempenham um papel na imunidade, mas são difíceis de analisar, pelo que é muito útil ter as plaquetas que deles derivam como indicador.

Para testar a sua descoberta, a equipa também vacinou ratos contra a gripe das aves, adicionando um medicamento chamado trombopoietina que aumenta a produção de plaquetas a partir dos megacarióticos. Os ratinhos que receberam este impulso extra registaram níveis mais elevados de produção de anticorpos contra a gripe dois meses mais tarde.

Para além do H5N1, a equipa observou dados anteriores de 244 pessoas que receberam sete vacinas diferentes, incluindo a gripe sazonal, a febre amarelo e a COVID-19.

A mesma assinatura molecular foi preditiva de uma resposta imunitária mais duradoura para todas estas vacinas, sugerindo que este poderia ser o indicador universal que procuravam.

Olhando para o futuro, Pulendran sugeriu que “poderíamos desenvolver um ensaio PCR simples — um chip de vacina — que mede os níveis de expressão genética no sangue apenas alguns dias depois de alguém ser vacinado. Isto poderia ajudar-nos a identificar quem pode precisar de um reforço e quando”.

O teste também pode ajudar a melhorar o desenvolvimento de vacinas e acelerar os ensaios clínicos, prevendo quais as vacinas candidatas que durarão mais tempo, em vez de ter de seguir os participantes durante muitos meses ou anos.

Assim, esta descoberta abre a porta a algumas possibilidades fascinantes.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

1 Comment

  1. Apesar dos pesares e dos retrocessos na saúde e na investigação, a força dos valorosos investigadores não esmorece, mantendo o dinamismo do trabalho que se revela em cada conquista.
    A simples análise do sangue já substitui muitos exames complicados e dispendiosos, como a recente confirmação da possibilidade de assim facilmente poder ser possível aferir da existência e gravidade de um traumatismo craniano, sem que para isso seja necessário efetuar uma ressonância magnética, de elevado custo.
    Obrigada a todos os de boa vontade, Parlabéns pelos “milagres” com que todos os dias presenteiam a nossa saúde, tornando possível a preservação da nossa existência.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.